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Moro defende diretor da PF após ameaça de troca feita por Bolsonaro


Em meio a atrito com presidente, ministro da Justiça cita ‘reveses’, mas destaca que governo Bolsonaro tem ‘avançado’ no combate a corruptos

Foto: Divulgação

Cinco dias depois de o presidente Jair Bolsonaro (PSL) dizer que poderia demitir o diretor-geral da Polícia Federal, o ministro da Justiça, Sergio Moro, decidiu defender publicamente o chefe da instituição, o delegado Maurício Valeixo. Na abertura de um seminário sobre corrupção no Ministério da Justiça nesta terça-feira (27), Moro cumprimentou as autoridades presentes ao evento, com uma deferência a Valeixo.

“Cumprimento especial ao diretor Maurício Valeixo, que tem feito um trabalho extraordinário aí à frente da Polícia Federal”, disse Moro . O ex-juiz deixou o Palácio do Alvorada de semblante carregado.

No seminário, o ministro também falou sobre o compromisso que Bolsonaro teria com o combate à corrupção. Ele chegou a se explicar dizendo que foi esse “compromisso” que o fez aceitar o convite ser ministro da Justiça.

O presidente Jair Bolsonaro tem um compromisso com a prevenção e o combate à corrupção. Esse foi um dos temas centrais que me levaram a aceitar esse convite. Eu creio que o governo tenha avançado nessa área. Claro que, às vezes, há alguns reveses. Mas nós temos que avançado no enfrentamento da corrupção”, afirmou Moro.

O ministro não especificou quais seriam estes supostos avanços. Nas últimas semanas, Bolsonaro tem sido criticado por tentar interferir na Receita Federal, a Polícia Federal, na Unidade de Inteligência Financeira (UIF), ex-Coaf, e no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, responsável por mapear queimadas e o avanço do desmatamento na Amazônia. Ao 
mencionar o “compromisso” de Bolsonaro, Moro não deixou claro se estava fazendo um elogio ao presidente.

Foco de calor

Na quinta-feira passada, Bolsonaro reafirmou, numa entrevista coletiva, que o delegado Alexandre Silva Saraiva, superintendente da PF no Amazonas, substituiria o delegado Ricardo Saadi no comando da instituição no Rio de Janeiro. Se a ordem não fosse obedecida,  ele afirmou que poderia afastar Valeixo da direção da PF à revelia do ministro da 
Justiça, responsável pela indicação do diretor-geral. Moro não rebateu o comentário do presidente. O elogio público a Valeixo desta terça-feira é a primeira manifestação do ministro em relação à fala do presidente.

O presidente se irritou com Moro quando soube da movimentação do ministro contra a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de proibir investigações iniciadas a partir do 
compartilhamento de relatórios detalhados do Coaf sem autorização judicial.

Toffoli suspendeu as investigações a partir de um  pedido de Frederick Wassef, advogado do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), alvo de uma investigação sobre supostas fraudes com dinheiro de servidores do antigo gabinete dele, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Quando soube das manobras do ministro, Bolsonaro chamou Moro para uma dura conversa no Palácio da Alvorada. Os dois tiveram uma discussão áspera.

Bolsonaro chegou a dizer que nunca tinha pedido qualquer favor a Moro. Da mesma forma, o ministro nunca tinha oferecido qualquer ajuda a Bolsonaro. Então, se Moro não pudesse ajudar, não deveria atrapalhar.

Ainda na abertura do seminário, Moro disse que é preciso aperfeiçoar e modernizar os instrumentos de combate à corrupção. Depois de defender o uso de escutas ambientais e a infiltração de policias, o ministro falou pela primeira vez sobre a necessidade de combater desvios nas polícias e nos órgãos de controle.

“De outro lado, temos que nos preocupar com a corrupção dos vigilantes. Temos que evitar que o policial se corrompa, que o juiz se corrompa, que o Ministério Público se corrompa, que o auditor se corrompa. Para poder enfrentar a corrupção precisamos ter integridade máxima dentro dos órgãos de controle e fiscalização”, disse Moro.

O ministro disse que, na esfera de atuação direta, ele está estimulando a criação de corregedorias nas polícias federais e estaduais. “É impossível combater a corrupção sendo corrupto. Simplesmente não funciona”, disse o ministro.

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