Guaidó convoca ‘mobilização de paz’ em quartéis da Venezuela, para este sábado.
Pelo menos cinco manifestantes morreram, três deles menores de idade, e 239 ficaram feridos no curso dos protestos na Venezuela após a revolta liderada pelo líder opositor Juan Guaidó, segundo números divulgados nesta sexta-feira (3) em Genebra por uma porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).
Os manifestantes foram mortos a tiros por grupos pró-Governo durante os protestos organizados nos dias 30 de abril e 1 de maio, elevando assim para 49 o número de mortes neste ano, segundo os dados apresentados pela porta-voz do Escritório do ACNUDH Ravina Shamdasani.
O porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Babar Baloch, declarou hoje na mesma entrevista coletiva que López se encontra na embaixada espanhola na condição de “convidado” e não como solicitante de asilo.
Shamdasani mencionou o caso do parlamentar venezuelano Gilber Caro, em paradeiro desconhecido desde 26 de abril, destacando que sua detenção violou sua imunidade parlamentar e as leis internacionais contra os desaparecimentos forçados.
“Preocupa-nos especialmente sua situação, já que ele corre alto risco de ser torturado ou sofrer maus-tratos”, explicou Shamdasani, lembrando que Caro se reuniu em março com representantes do ACNUDH durante uma visita destes ao país para preparar uma possível viagem da alta comissária Michelle Bachelet.
Convocação: “Sábado 4: Mobilização nacional de paz nas principais unidades militares para que se somem à Constituição”, escreveu Guaidó no Twitter.
O líder opositor Juan Guaidó convocou passeatas no sábado até os principais quartéis da Venezuela em um novo desafio ao presidente Nicolás Maduro após a rebelião militar frustrada de terça-feira. O autoproclamado presidente interino classificou o movimento como uma “mobilização nacional de paz” que visa a obter das Forças Armadas apoio para o fim do seu elo com o líder bolivariano.
O líder opositor explicou no Twitter que esta sexta-feira servirá à realização de assembleias por todo o país para divulgar as linhas de ação contra Maduro — protestos permanentes, com ação popular diária; protestos setoriais; e organização de greve cívica nacional — e convocar as próximas manifestações. No domingo, a oposição planeja uma vigília em oração por mártires do movimento e pela liberdade no país.
Na última terça-feira, Guaidó deflagrou uma revolta militar que não teve adesão suficiente dos quartéis. Na madrugada, ele havia anunciado que os rebeldes haviam “tomado a decisão correta” de se unir à oposição para por “fim definitivo à usurpação de poder” por parte de Maduro, o que não se confirmou na prática.
Justiça mandar prender opositor de Maduro, conflitos aumentam com mortes e feridos na Venezuela
O OVCS contabiliza a morte de 57 pessoas em 2019 em ações populares anti-Maduro. Entenda o colapso
político, econômico e social da Venezuela.
O Tribunal Supremo da Venezuela mandou prender nesta quinta-feira (2) Leopoldo López, um dos principais opositores do regime de Nicolás Maduro. A corte é controlada por juízes leais ao governo chavista.
A sentença do oposicionista é de 14 anos de prisão, dos quais cinco foram cumpridos.
E os conflitos vão muito além dos tribunais, pelo menos quatro pessoas morreram em dois dias de protestos na Venezuela , dois deles menores de idade. A informação foi divulgada nesta quinta-feira pelo Observatório Venezuelano de Conflito Social (OVCS), que fez um balanço geral de 293 feridos por balas de borracha e gas lacrimogêneo desde a última terça-feira.
As vítimas são Yosner Graterol, de 16 anos, ferido na última terça-feira na cidade de La Victoria (norte), e Yoifre Hernández, de 14, atingido na quarta-feira em Caracas, disseram os deputados Karin Salanova e Miguel Pizarro, que culparam o governo.
A morte dos menores se soma à de Samuel Méndez, de 24, na terça, e à de Jurubith Rausseo, de 27, na quarta, segundo o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais.
O OVCS contabiliza a morte de 57 pessoas em 2019 em ações populares anti-Maduro.
Após ser libertado na madrugada de terça-feira, López participou do levante liderado por Juan Guaidó na terça-feira. Naquela manhã, o autoproclamado presidente interino convocou protestos ao afirmar que havia conquistado o apoio das Forças Armadas – o que foi negado pelos militares de alta patente e pelo regime de Maduro.
Na madrugada de terça-feira, Guaidó anunciou ter apoio significativo de militares contra Maduro e lançou uma operação para retirá-lo do poder, o que não se confirmou. Um funcionário do governo americano disse que dirigentes chavistas que negociaram a deposição do líder bolivariano”desligaram os celulares” na hora da ação.
Na manhã desta quinta-feira, a mulher do opositor, Lilian Tintori, denunciou que a casa do casal em Caracas foi invadida e roubada. A invasão ocorreu na noite de terça-feira, quando nem o casal nem seus filhos estavam na residência, segundo Tintori.
Sem apoio das Forças Armadas, a rebelião em frente à base militar de La Carlota, em Caracas, fracassou.
Nicolás Maduro acusa oposição de querer ‘guerra civil’ na Venezuela; Juan Guaidó denuncia repressão
Nicolás Maduro acusou na tarde de ontem (1º) a oposição liderada por Juan Guaidó de querer iniciar uma guerra civil na Venezuela. Em discurso, o chavista ainda insinuou que os Estados Unidos poderiam ordenar invasão militar caso a tensão interna escalasse para um conflito armado.
Enquanto Maduro discursava, Guaidó usou as redes sociais para responder ao chavista. “O regime covarde trata de demonstrar com repressão focalizada um controle que já não tem”, acusou o oposicionista, que pediu mais protestos “todos os dias” em discurso no início da tarde.
Guaidó ainda reforçou o pedido às Forças Armadas para que o apoiem.
Maduro volta a acusar EUA
O chavista ainda voltou a acusar John Bolton, assessor especial do governo de Donald Trump, de tramar um “golpe de estado”. Maduro voltou a insistir que os Estados Unidos convocam países vizinhos, incluindo o Brasil, para coordenar a derrubada do regime.
“Quem quiser chegar a Miraflores [palácio presidencial] tem que ganhar eleições, esta é a única forma de chegar à presidência venezuelana. Apenas o povo coloca e tira. Não são as armas que colocarão, jamais um presidente fantoche na presidência”, disse Maduro.
Também nesta quarta-feira, representantes do EUA e da Rússia conversaram, por telefone, para pedir o fim da interferência na crise venezuelana. A Casa Branca e o Kremlin acusam um ao outro de interferirem na Venezuela – os norte-americanos com Guaidó e os russos com Maduro.
Entenda o colapso da Venezuela
A Venezuela vive a maior recessão de sua história. Já são mais de 5 anos de retração econômica, em meio a um cenário de hiperinflação, caos políticos, aumento da pobreza e de êxodo de venezuelanos para países vizinhos como o Brasil.
Em 2018, o PIB venezuelano caiu 18%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela irá recuar 25% em 2019. Com isso, a queda acumulada do PIB venezuelano deverá chegar a 60% em 6 anos.
Os principais fatores que ajudam a explicar o colapso econômico da Venezuela:
Crise do petróleo –
A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo – e o recurso é praticamente a única fonte de receita externa do país.
Até 2014, o governo venezuelano, que controla a exploração, foi beneficiado pela valorização do produto, que permitiu inclusive o financiamento de obras e projetos. Naquele ano, porém, o preço do barril no mercado internacional despencou, reflexo da demanda menor que a esperada na Europa e na Ásia, entre outros fatores. A Venezuela, portanto, passou a receber menos dinheiro pelo produto.
No início daquele ano, depois de ter alcançado um pico de US$ 138,54 em 2008, o preço do barril de petróleo era negociado a cerca de US$ 100 dólares e caiu pela metade no fim do ano, mantendo essa queda significativa até este ano. Atualmente, tem sido negociado ao redor de US$ 75.
A produção de petróleo no país caiu fortemente devido, em parte, à falta de recursos disponíveis para investimentos. Em 1999, a Venezuela produzia 3 milhões de barris por dia. No final do ano passado, eram cerca de 1,5 milhão, o volume mais baixo em décadas. Em março, encolheu para 870 mil barris por dia, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Hiperinflação
Com a queda do preço do petróleo e uma redução no fluxo de divisas, o governo passou a imprimir mais dinheiro para cobrir o rombo nas contas públicas e isso foi gerando cada vez mais inflação.
Em agosto de 2018, numa tentativa para tentar conter a inflação, o governo de Nicolás Maduro um corte de cinco zeros da moeda local, que passa a se chamar bolívar soberano. Mas se naquele ano a inflação era estimada em 1.000.000%, para 2019 passou a ser projetada em 10.000.000% ao ano.
A hiperinflação fez com que faltassem até cédulas de dinheiro circulando, já que as pessoas passaram a precisar de muito mais dinheiro para comprar qualquer coisa.
A hiperinflação e a crise econômica provocou uma pulverização da renda e a pobreza aumentou. Em 2017, o índice de pessoas na linha da pobreza no país de 30 milhões de habitantes chegou a 87%, um aumento de 40 pontos percentuais em três anos, segundo levantamento da Universidade Católica Andrés Bello, citado por reportagem da BBC.
Desabastecimento e sanções
Com o controle de preços, o setor privado foi levado a substituir a produção própria pelas importações mais baratas, subsidiadas pelo governo. A Venezuela passou a depender mais e mais de importações – de alimentos e medicamentos até pneus e peças de reposição para o sistema de metrô das grandes cidades.
Mais recentemente, a população também passou a sofrer com apagões e falta de água. Em março, uma sequência de blecautes paralisou boa parte da Venezuela durante ao menos 11 dias. Foi o mais longo da história do país. Por causa disso, grupos favoráveis e contrários a Nicolás Maduro convocaram grandes manifestações pelo país.
O governo Trump foi o primeiro a reconhecer Juan Guaidó como presidente autoproclamado da Venezuela. Em janeiro, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou uma declaração em que não reconhece a legitimidade do novo mandato de Nicolás Maduro.
Os EUA continuam, no entanto, sendo um dos principais importadores de petróleo venezuelano – a PDVSA tem, inclusive, uma filial em solo americano, a Citgo
Fome e êxodo
Desde 2015, quando o colapso econômico na Venezuela se intensificou, venezuelanos cruzam diariamente a pé a fronteira com o Brasil em busca de melhor qualidade de vida.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) prevê mais de 5 milhões de imigrantes da Venezuela em 2019, um fluxo migratório equiparado aos provocados por guerras como a da Síria e do Afeganistão. Os imigrantes da Venezuela estão majoritariamente na Colômbia (1,2 milhão), Peru (700.000), Chile (265.800), Equador (250.000), Argentina (130.000) e Brasil (100.000)
O relatório da OEA apontou que 87% dos lares venezuelanos estão abaixo da linha da pobreza, contra 50% em 1996, e informa que a pobreza extrema supera 60%.
Brasil espera que militares venezuelanos apoiem ‘transição democrática’
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que o Brasil espera que militares venezuelanos apoiem a “transição democrática” no país vizinho.
Desde o início da manhã, a situação é tensa na Venezuela. Em Caracas, capital do país, apoiadores de Guaidó foram às ruas, atendendo a chamado dele para pôr fim à ‘usurpação’.
Araújo disse que o Brasil ainda está reunindo informações sobre o que está ocorrendo no país vizinho. “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, afirmou o ministro.