O percentual de 66% é o máximo considerado pelos cientistas; o mínimo da população que desenvolveu anticorpos é calculada por eles em 44%

Uma pesquisa realizada por 34 cientistas das universidades como a USP, Oxford (ING), Escola de Saúde Pública de Harvard (EUA), além de outras instituições no Amazonas, em São Paulo e nos EUA, indica que Manaus pode ter alcançado uma imunidade de rebanho contra o novo coronavírus.
O estudo, em uma versão prévia, foi anunciado no início desta semana, mas ainda precisa passar por revisão de outros cientistas e publicada em uma revista científica. Os autores da pesquisa estimam que a capital do Amazonas pode ter atingido até 66% da população, tendo desenvolvido anticorpos para o vírus.
Os cientistas alertam, entretanto, que chegaram à conclusão depois de analisar amostras do banco de sangue de doadores do Hemoam, entre 7 de fevereiro e 19 de agosto, que não necessariamente representa toda a população da cidade.
O percentual de 66% é o máximo considerado pelos cientistas; o mínimo da população que desenvolveu anticorpos é calculada por eles em 44%. A estimativa inferior não considera as pessoas que podem tê-los desenvolvido, mas que tiveram resultados de testes negativos (os falsos negativos) ou em quem os anticorpos foram detectados, mas, depois, não mais. (Já se sabe que os anticorpos para o Sars-CoV-2 podem desaparecer depois de um tempo).
Queda nos números
Para os pesquisadores, a elevada taxa de mortalidade em Manaus e a rápida queda no número de novos casos sugere que a capital do Amazonas pode ter alcançado a imunidade de rebanho – situação na qual um número suficiente de pessoas em um determinado lugar já foi infectado ou imunizado contra uma doença e consegue evitar a circulação dela.
No caso do sarampo, por exemplo, é necessário que 95% da população esteja vacinada para se alcançar a imunidade de rebanho para a doença. Na pesquisa da Covid em Manaus, os autores alertam que não há consenso sobre qual deve ser o percentual mínimo de pessoas infectadas para que a imunidade de rebanho seja alcançada para a Covid-19.
“Imunidade de rebanho é o valor em que você tem um número de pessoas que já pegaram a doença que faz com que o número de casos caia – não quer dizer que as outras pessoas não vão pegar a infecção”, explica a pesquisadora Ester Sabino, autora sênior do estudo e professora da Faculdade de Medicina da USP.
Imunidade
Quando a imunidade de rebanho acontece, mesmo aquelas pessoas que não podem ser vacinadas – no caso de doenças para as quais existe uma vacina – ficam protegidas.
No caso de Manaus, lembra Sabino, a percentagem encontrada ainda deixa, teoricamente, 30% da população manauara vulnerável ao vírus.
“As pessoas podem se infectar? Podem, mas provavelmente vai ser em formato menor. Mas isso depende de quanto tempo dura essa imunidade. Hoje, a chance de ter uma grande epidemia como a que teve no começo do ano é pouco provável”, avalia a cientista.
Sabino explica, ainda, que o percentual estimado na pesquisa é compatível com modelos iniciais da pandemia – que apontavam que, para que começasse a haver queda nas contaminações, era necessário que entre 60% e 70% de uma população tivesse contato com o vírus.
Mas Sabino também lembra que, se houvesse uma tentativa de alcançar a imunidade de rebanho de forma geral e os números de Manaus fossem vistos em São Paulo, por exemplo, a capital paulista possivelmente teria três vezes mais mortes do que tem hoje.
“Se em São Paulo tivesse acontecido a mesma coisa, e se corrigisse pela faixa etária [dos moradores], teriam morrido três vezes mais pessoas”, afirma a cientista da USP. A população de São Paulo é mais velha do que a de Manaus.