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Manaus registra aumento de 130% nos casos de malária; prevenções

Cientistas identificam, no sangue de pacientes com malária, moléculas associadas ao risco de recaída.

Manaus registrou um aumento de mais de 130% nos casos de malária em 2024, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa). Os dados são referentes aos primeiros cinco meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2023.

De 1° de janeiro até quinta-feira (13), a capital contabilizou 2.258 casos positivos de infecções pela doença. Os dados apontam um crescimento de 131% dos casos se comparado ao mesmo período de 2023, que havia registrado 974 positivos.

As informações constam no Sistema de Informações de Vigilância Epidemiológica (Sivep) – Notificação de casos de Malária.

Ainda segundo a Semsa, as localidades mais afetadas pela doença estão na Zona Rural de Manaus. As principais áreas com maior número de casos registrados são:

  1. Aripuana BR-174 KM 5, Zona Rural – 222 casos
  2. Estrada do Brasileirinho, Zona Leste – 107 casos
  3. Colônia Claudio Mesquita I, Entr. BR-174 KM 2, Zona Rural – 58 casos
  4. Ig. do Leão BR-174 KM 10, Zona Rural – 57 casos
  5. Comunidade Nova Canaa BR-174, KM 41, Zona Rural – 51 casos

A Semsa explicou que as localidades não são bairros, mas áreas de abrangência dos Distritos de Saúde (Disas).

Prevenção

De acordo com a Semsa, as ações de enfrentamento à doença envolvem trabalho contínuo voltado a atenção ao paciente e combate ao vetor. Também promove ações voltadas para o diagnóstico precoce e tratamento em pontos de referência.

Além disso, o órgão disse trabalhar com busca ativa de casos suspeitos e atividades de educação em saúde.

A Semsa disse ainda que é feito o cadastro, avaliação e, se necessário, o tratamento de criadouros do mosquito, identificação de espécimes do vetor transmissor, monitoramento e reposição de mosquiteiros impregnados para moradores em localidades com alta transmissão de malária, assim como ações de controle químico quando indicadas, como a borrifação intradomiciliar e nebulização espacial em áreas com notificação de casos e transmissão ativa da doença.

Moléculas associadas ao risco de recaída

A forma mais comum de malária no Brasil é a causada pelo parasita Plasmodium vivax. Embora a espécie provoque um quadro mais brando em comparação à P. falciparum, ela possui uma característica que torna o controle da doença muito difícil: a capacidade de produzir formas dormentes do protozoário no fígado do hospedeiro que podem ser reativadas meses após o término do tratamento.

De acordo com a literatura científica, esse fenômeno, denominado recorrência ou recaída, pode ser responsável por aproximadamente 90% dos casos no país.

Em artigo publicado na revista Scientific Reports, pesquisadores brasileiros descreveram, pela primeira vez, possíveis biomarcadores associados à recorrência da malária vivax. Financiada pela FAPESP (projetos 17/18611-7 e 21/04632-8), a pesquisa fornece informações relevantes sobre potenciais alvos para o desenvolvimento de antimaláricos e possíveis marcadores relacionados ao risco de recaída.

Para identificar esses biomarcadores, pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp), do Estado do Amazonas (UEA) e Federal de Goiás (UFG) analisaram o plasma sanguíneo de 51 pacientes amazônicos com malária vivax recorrente e de 59 não recorrente (que estavam ainda no primeiro episódio da doença).

As amostras foram analisadas por meio de metabolômica não direcionada, técnica que avalia todo o conjunto de metabólitos presente na amostra.

O objetivo foi compreender como o metabolismo dos voluntários foi afetado durante esses dois momentos da infecção.

Os pacientes foram acompanhados por 180 dias e, majoritariamente, apareceram com o “novo” episódio entre 40 e 60 dias após o inicial. A análise com espectrometria de massa (equipamento que identifica compostos com base na massa molecular) revelou 52 e 37 metabólitos significativos nos participantes recorrentes e não recorrentes, respectivamente.

“No momento em que o paciente chega com o episódio inicial de malária, há uma superexpressão de metabólitos, situação que muda completamente nos episódios de recorrência, caracterizada pelo maior número de metabólitos diminuídos”, relata à Agência FAPESP Jessica R. S. Alves, pesquisadora do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e uma das autoras do trabalho.

Os pesquisadores realizaram ainda uma análise de dados mais aprofundada, que revelou o enriquecimento de outras vias metabólicas para o fenótipo da malária recorrente, incluindo substâncias como butanoato, aspartato, asparagina e N-glicano.

“Todos esses marcadores podem sugerir vias com associação à recorrência e podem, no futuro, ser usados para caracterizá-la”, diz Gisely C. de Melo, pesquisadora da UEA que também assina o estudo.

 Perspectivas

 “A principal contribuição do trabalho foi direcionar as análises em relação a quais vias metabólicas precisamos investigar mais profundamente para tentar entender e preencher lacunas que envolvem o estudo das recorrências”, diz Fabio Trindade Maranhão Costa, professor do IB-Unicamp e coautor do artigo.

No entanto, os pesquisadores destacam duas limitações do estudo: o número de participantes (relativamente pequeno) e a incerteza sobre a origem das recorrências (poderia ser uma recaída ou um nova infecção, por exemplo).

“Não temos, hoje, como diagnosticar as recaídas e tratá-las adequadamente”, sublinha Melo.

Segundo os autores, os próximos passos envolvem a condução de estudos multicêntricos, com um maior número de pacientes e uma cobertura geográfica mais ampla do P. vivax.

Além disso, o grupo pretende associar à metabolômica plasmática investigações lipidômicas (conjunto de lipídeos), proteômicas (conjunto de proteínas), transcriptômicas (conjunto de RNAs transcritos) e genômicas (sequenciamento genômico). Também devem ser feitas análises do perfil imunológico de pacientes com ou sem recorrências.

Além da FAPESP, apoiaram a pesquisa agora divulgada o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), The World Academy of Science (TWAS), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e o Instituto Serrapilheira.

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