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Mapa do crime no RJ mostra CV dominante, milícias recuando

O estudo, divulgado nesta semana pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado, traz dados alarmantes: 34,9% da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) vive sob o controle ou influência de grupos armados. Isso equivale a cerca de 4 milhões de habitantes.

A pesquisa analisa a evolução do crime entre 2007 e 2024 e aponta uma virada histórica: após anos de expansão desenfreada, as milícias entraram em retração, enquanto o Comando Vermelho (CV) avança sobre áreas consolidadas e o Terceiro Comando Puro (TCP) se firma como a terceira força no estado.

A Hierarquia do Crime em 2024

O relatório rompe com a visão homogênea do crime e destaca quem manda em quê no Rio de Janeiro atualmente. A disputa territorial e populacional apresenta nuances importantes:

  • Comando Vermelho (CV): É a facção hegemônica em número de habitantes. Em 2024, o grupo controla 47,2% da população subjugada e 47,5% dos territórios sob controle estrito. O CV mantém hegemonia quase absoluta no Leste Fluminense e lidera no Centro e Zona Sul da capital.
  • Milícias: Apesar de viverem uma crise e perderem território desde 2020, ainda detêm a maior extensão territorial total (49,4%) se somadas as áreas de controle e influência. No entanto, perderam a liderança no domínio populacional (44,7%) e enfrentam disputas internas e externas, especialmente na Zona Oeste.
  • Terceiro Comando Puro (TCP): Consolida-se como a “3ª força”, crescendo significativamente e ocupando espaços deixados pelo declínio do ADA (Amigos dos Amigos), que perdeu metade de seus territórios.

O fim da expansão silenciosa?

Uma das principais conclusões do estudo é a mudança na dinâmica da violência. Até 2020, as milícias cresciam através da “colonização”: ocupavam loteamentos irregulares e vazios urbanos, expandindo-se de forma silenciosa.

Agora, o cenário é de “conquista”. Com as milícias fragilizadas por operações policiais (como a que resultou na morte de Ecko) e disputas sucessórias, facções como o Comando Vermelho passaram a invadir territórios já ocupados.

“Para crescer, um grupo precisa tomar a área do outro na base da força. O custo social dessa mudança de ‘colonizar’ para ‘conquistar’ é cobrado diretamente na rotina e na segurança de quem vive nessas áreas”, afirma Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado.

Mapa do Crime (Foto: Reprodução)

Quem são as pessoas afetadas?

O mapa do crime sobrepõe-se quase perfeitamente ao mapa da desigualdade social e racial no Rio de Janeiro. O domínio armado não é aleatório; ele se concentra onde o Estado é falho.

Desigualdade de Renda: Moradores de áreas livres do domínio armado ganham, em média, três vezes mais do que aqueles que vivem sob o jugo de facções ou milícias. Na capital, a renda média em áreas controladas é de R$ 1.267, contra R$ 3.521 nas áreas livres.

Recorte Racial: As áreas dominadas são majoritariamente habitadas por pessoas negras. A média é de 69,1% de pessoas não brancas (pretas e pardas) nos territórios controlados, chegando a 72,9% na Baixada Fluminense.

Evolução e Retração (2007-2024)

O estudo identificou ciclos claros na segurança pública fluminense:

  1. A Grande Expansão (2016-2020): Período marcado pelo colapso das UPPs e falência fiscal do estado, onde a área sob controle armado cresceu 31,6%.
  2. Gradual Retração (2020-2024): Pela primeira vez na série histórica, houve um recuo. A área dominada caiu 7,1%. Essa queda está associada quase exclusivamente ao enfraquecimento das milícias na Zona Oeste.

Apesar da leve retração recente, o saldo final de 18 anos é negativo: a área dominada por criminosos cresceu 130,4% desde 2007.

Para o coordenador do GENI/UFF, Daniel Hirata, o estudo mostra que a violência no Rio não é um “ruído externo”, mas um modo de organização da cidade que aprofunda desigualdades.

O relatório sugere que operações policiais de alto impacto têm pouca capacidade de mudar o desenho estrutural do crime se não forem acompanhadas de políticas públicas que disputem a regulação econômica e territorial dessas áreas, atacando a base financeira e política dos grupos armados.

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