A peça de Giovanni Pergolesi, escrita em 1736, ganha releitura por meio do formato pastiche, com cenografia que faz alusão a problemas do mundo atual.
Com uma estética repleta de simbolismos, o espetáculo “Mater Dolorosa” vai estrear no 22º Festival Amazonas de Ópera (FAO), neste sábado (25), às 20h, no Teatro Amazonas, com reapresentação no dia 29.
Átila de Paula comanda a direção do espetáculo, que promete apresentar uma obra para levar o público a uma reflexão bem atual, ao misturar repertório dos séculos 17 e 18 a uma abordagem completamente inovadora.
O Festival Amazonas de Ópera é uma realização do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC), com patrocínio master do Bradesco, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cidadania e Secretaria Especial de Cultura.
Releitura – Propondo uma reflexão crítica sobre a crise global da produção de plástico e da poluição, “Mater Dolorosa” nasce da releitura do contexto imortal de “Stabat Mater”, do compositor italiano Giovanni Pergolesi, que retrata musicalmente a dor de Maria ao ver seu filho Jesus na cruz.
De acordo com o diretor Átila de Paula, o formato da apresentação é o pastiche, uma prática comum na arte e que faz recortes de trabalhos e mistura estilos, numa espécie de releitura da obra.
“Os pasticci, como eram conhecidos, foram verdadeiros exercícios de inventividade dos teatros do século 18. Algo como um pot-pourride hoje, onde trechos famosos de diversas óperas eram arrumadas para criar uma nova narrativa. ‘Mater Dolorosa’ é justamente uma criação inventiva de um espetáculo, a partir de trabalhos variados”, afirmou.
O enredo do espetáculo se apropria dos acontecimentos da Paixão de Cristo e propõe uma nova ótica, em diversos aspectos, da dor de Maria ao ver o sofrimento de seu filho. “Transportamos toda a mitologia bíblica a um simbolismo contemporâneo, onde a Mãe Natureza relata sua dor ao ser destruída por sua criação, a humanidade”, completou o artista.
Reflexão – De Paula ressalta, ainda, que todo a cenografia parte de uma estética repleta de simbolismo. “’Mater Dolorosa’ reflete complexas relações sociais, amorosas e conflituosas, mergulhando em uma profunda angústia, que fatalmente revela o fim do Homem e da Natureza”, descreve.
Para dar vida a essa obra, duas solistas sobem ao palco – a soprano Dhijana Nobre e a mezzo-soprano Talita Azevedo. Ambas dão voz ao personagem único da Mãe Natureza, através da música do “Stabat Mater”, de Pergolesi, cantata sacra na qual “Mater Dolorosa” é majoritariamente baseada.
“A voz e o corpo do Homem, por sua vez, serão representados pelo Balé Experimental do Corpo de Dança do Amazonas, dramatizando as diversas necessidades do ser humano: conflito, amor, social e divertimento. ‘Mater’ é um desafio a toda uma equipe multi-talentosa de artistas que, a partir de uma ideia de enredo central, dão vida a uma obra inédita”, comemora o diretor.
Laboratório – “Mater Dolorosa” é resultado de um trabalho desenvolvido em caráter experimental pelo Laboratório de Ópera Barroca, projeto da SEC. Segundo o maestro Marcelo de Jesus, diretor artístico do FAO, este é um projeto único no Brasil e que se propõe a revisitar repertórios dos séculos 17 e 18 com nova abordagem.
Esta é a terceira edição do FAO que conta com a participação do Laboratório. “O projeto carrega uma grande importância pedagógica: é uma ponte para jovens artistas alcançarem experiências profissionais no palco, tornando-se uma das importantes ações de continuidade e formação do Festival Amazonas de Ópera”, esclareceu.
Diferente da ópera, que conta uma história, Marcelo de Jesus explica que o conceito de “Mater Dolorosa” apresenta o pensamento artístico de uma forma diferente. “A peça de Pergolesi, teoricamente, não foi escrita para esse fim, mas o Átila decidiu juntar essa música à ideia dele e criar o espetáculo, que tem um conceito bem contemporâneo”, acrescentou.
Música barroca – Outro ponto de destaque no espetáculo, para o maestro, é o trabalho da Orquestra de Câmara do Amazonas, que tem a música barroca registrada na sua trajetória. “A OCA participa do laboratório desde o início, e tem no próprio DNA esse tipo de repertório. É uma linguagem própria e que o grupo domina muito bem”, ressaltou.
Sobre a estreia de Átila de Paula na direção do espetáculo, só elogios partem do maestro Marcelo de Jesus. “O Átila assina a direção de um espetáculo pela primeira vez nesta edição do FAO. Ele é expert nesse tipo de música que, por ser antiga, é muito particular e exige estudo prático e teórico profundo, além do trabalho erudito de pesquisa e de realização, com os instrumentos de época e os atuais”, apontou.
Para o maestro, as coisas aconteceram no tempo certo. “Fico bem feliz, porque acompanho o Átila desde os seus 15 anos. Trabalhamos juntos desde essa época. A direção artística do FAO está completamente confiante na condução que ele dá ao espetáculo”, frisou. Átila de Paula tem formação no Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, da SEC, e cursou bacharelado em cravo, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. É formado em “Instrumentos de teclados históricos”, na Hochschule für Musik Karlsruhe, na Alemanha.
Sobre o Festival Amazonas de Ópera – O FAO começou no dia 26 de abril e segue com apresentações de ópera, recitais e concertos até 30 de maio. Em 2019, o Festival celebra o centenário de nascimento do maestro e compositor amazonense Claudio Santoro. Compõe a programação do evento, a apresentação das óperas “Alma”, de Santoro; “Ernani”, de Giuseppe Verdi; “Maria Stuarda”, de Gaetano Donizetti; “Tosca”, de Giacomo Puccini; e “Mater Dolorosa”, baseada na cantata “Stabat Mater Dolorosa”, de Giovanni Pergolesi.
Os ingressos para o FAO 2019 estão à venda na bilheteria do Teatro Amazonas e pelo site Bilheteria Digital (www.bilheteriadigital.com/teatroamazonas), com valores que vão de R$ 2,50 a R$ 60.
A programação do Festival abrange, ainda, o Recital Bradesco, com canções compostas por Claudio Santoro; o projeto “Ópera Mirim”; o encontro “Os Teatros de Ópera e a Economia Criativa na América Latina”, voltado para apresentar dados e casos de sucesso sobre a Indústria da Ópera na América Latina; e “Mulheres da Ópera”.
Sobre o Bradesco Cultura – Com centenas de projetos patrocinados anualmente, o Bradesco acredita que a cultura é um agente transformador da sociedade. O Banco apoia iniciativas que contribuem para a sustentabilidade de manifestações culturais que acontecem de norte a sul do País, reforçando o seu compromisso com a democratização da arte. São eventos regionais, feiras, exposições, centros culturais, orquestras, musicais e muitos outros, além do Teatro Bradesco em São Paulo. Fazem parte do calendário 2019 atrações como o musical O Fantasma da Ópera e o Natal do Bradesco, em Curitiba.