O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, disse nesta quinta-feira, em Brasília, que apesar das ameaças planeja voltar para a Venezuela até a próxima segunda-feira e que não tem medo de manter a resistência em seu país.
Em uma entrevista no Palácio do Planalto, Guaidó afirmou ainda saber que qualquer processo de transição precisa dar garantias a setores do governo de Nicolás Maduro para garantir a estabilidade.
“Não podemos viver com ressentimentos”, afirmou, acrescentando, no entanto, que a perseguição promovida pelo atual regime a opositores “deixa cicatrizes”.
Maduro ameaçou Guaidó de prisão caso o líder da oposição retorne à Venezuela. Ainda assim, Guaidó afirmou em Brasília que irá na sexta-feira a Assunção e retornará a Caracas até segunda-feira.
“Recebi ameaças pessoais e familiares e também de prisão. Mas isso não vai evitar minha volta à Venezuela”, garantiu.
Guaidó foi recebido no Planalto pelo presidente Jair Bolsonaro com o mesmo tratamento reservado a presidentes eleitos, com direito a tapete vermelho e guarda presidencial, mas sem entrada pela rampa principal do palácio.
O encontro durou cerca de 40 minutos e Bolsonaro ainda acompanhou Guaidó em uma declaração à imprensa que não estava prevista inicialmente, em um gesto de apoio maior do que o previsto. Na quarta-feira, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que haveria apenas um “visita pessoal”, e a recepção oficial a Guaidó seria no Itamaraty.O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (28) que não poupará “esforços” para restabelecer a democracia na Venezuela.
‘Em Brasilia – Bolsonaro fez um pronunciamento no Palácio do Planalto ao lado do autodeclaradopresidente da Venezuela, Juan Guaidó, após os dois se reunirem na tarde desta quinta em Brasília.
A Venezuela enfrenta uma profunda crise, e o Brasil considera Guaidó presidente interino do país vizinho (leia detalhes mais abaixo).
“Nós não pouparemos esforços dentro – obviamente – da legalidade, da nossa Constituição e de nossas tradições, para que a democracia seja restabelecida na Venezuela. E todos nós sabemos que isso será possível através, não apenas de eleições, mas de eleições limpas e confiáveis”, afirmou o presidente brasileiro.
Pouco antes da fala de Bolsonaro, Guaidó também fez um pronunciamento, no qual afirmou que a “luta” dele por democracia e liberdade na Venezuela é constitucional.
O presidente autodeclarado também disse que o encontro desta quinta no Planalto marca um “novo começo” na relação entre Brasil e Venezuela.
Enquanto Guaidó estava no Planalto, um grupo de pessoas protestava contra a presença do líder oposicionista venezuelano. O grupo estava na Praça dos Três Poderes, em frente ao palácio.
Também nesta quinta, o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, afirmou em uma rede social que receberá Guaidó nesta sexta (1º), em Assunção.
Crise na Venezuela –
O Brasil está entre os países que não reconhecem a legitimidade de Maduro como presidente da Venezuela.
O país enfrenta uma profunda crise política, econômica e social, com a inflação acima de 1.000.000% ao ano; milhares de pessoas fugindo do país para outras regiões da América do Sul; e líderes da oposição denunciando perseguição política.
Na semana passada, Maduro determinou o fechamento da fronteirada Venezuela com o Brasil, em Pacaraima (RR).
O presidente venezuelano se diz vítima de uma tentativa de golpe por parte do Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, e afirma que os Estados Unidos comandam uma “perseguição ilegal” contra o governo dele.
Na última segunda (25), durante uma reunião do Grupo de Lima, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o governo brasileiro acredita ser possível encontrar uma solução “sem qualquer medida extrema” para “devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas”.
‘Podem contar conosco’
Em outro trecho do pronunciamento desta quinta-feira, Jair Bolsonaro afirmou a Guaidó que pode “contar” com ele para ajudar a Venezuela.
“Sabemos que, em um segundo tempo, seu país enfrentará a recuperação econômica. Podem contar conosco no que for possível, apesar dos problemas que enfrentamos aqui. Nos interessa uma Venezuela livre, próspera, democrática e economicamente pujante”, declarou o presidente.
“Muito obrigado por confiar no povo brasileiro. Estamos juntos para que o sonho maior de qualquer homem ou mulher seja restabelecido, ou seja, a sua liberdade. Conte conosco. Deus é brasileiro e venezuelano”, acrescentou Bolsonaro.
Ao se dirigir a Guaidó, Bolsonaro disse que faria um “mea culpa” porque dois ex-presidentes do Brasil (ele não citou quais) “foram em parte responsáveis” pela crise na Venezuela.
Durante a campanha eleitoral do ano passado, Bolsonaro afirmou reiteradas vezes, ao pedir voto, que precisava derrotar Fernando Haddad (PT) para o Brasil não ficar em situação semelhante à do país vizinho.
“O povo aqui acordou e, em parte, se mirou no que acontecia negativamente em seu país e resolveu dar um ponto final no populismo, na demagogia barata, que leva exatamente à situação que o país se encontra neste momento”, afirmou Bolsonaro a Guaidó.
Ajuda humanitária
Durante o pronunciamento ao lado de Bolsonaro, Guaidó afirmou que seguirá “lutando” pela entrada, na Venezuela, da ajuda humanitária oferecida por países como o Brasil.
O envio da ajuda estava previsto para o dia 23, mas, com a fronteira fechada, o governo brasileiro já informou que os alimentos e os medicamentos ficarão estocados em Roraima até a Venezuela autorizar caminhões do país a entrar no estado brasileiro.
Segundo Guaidó, o objetivo dele e do grupo político que o apoia na Venezuela, é “construir um governo de transição que gere estabilidade, governabilidade” e que promova, de imediato, uma eleição livre para escolha de um novo presidente.
“O Brasil poderá contar em breve com uma Venezuela próspera, com um sadio intercâmbio comercial [entre os dois países]”, disse Guaidó.