Dois dias depois de receber o apoio de manifestantes pró-Lava Jato em vários atos pelo país, o ministro da Justiça Segurança, Sergio Moro, estará daqui a pouco, às 14h (horário de Brasília), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, para falar sobre o vazamento de supostas conversas dele com o coordenador da Lava Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol.
Moro será ouvido por quatro comissões da Câmara em uma sessão conjunta: CCJ; Trabalho, Administração e Serviço Público; Direitos Humanos e Minorias; e Fiscalização Financeira e Controle. A audiência está prevista para começar às 14 horas. O trâmite da audiência deve ser parecido com o adotado quando o ministro foi à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado para defender o pacote anticrime, em maio.
O ex-juiz da Lava Jato terá entre 20 e 30 minutos para fazer suas considerações iniciais. Em seguida, os deputados inscritos podem fazer perguntas ao ministro. A CCJ ainda não definiu o tempo para as perguntas, mas deve girar em torno de três minutos para cada parlamentar – líderes têm um tempo maior, também não definido ainda.
Moro foi convidado a participar da audiência. O convite partiu de apoiadores do ex-juiz, para evitar que a oposição apresentasse um requerimento para convocar o ministro. A diferença é que, como convidado, Moro pode definir a data e horário de sua participação. Já como convocado, o ministro é obrigado a comparecer em data definida pelo colegiado e, se não atender à convocação, comete crime de responsabilidade.
O ministro deveria ter comparecido à Câmara no último dia 26 para dar esses esclarecimentos, mas cancelou a audiência porque estava nos Estados Unidos.
Estratégias de apoiadores e oposição
A audiência com Moro ocorre em meio a novos vazamentos de supostos diálogos entre membros do Ministério Público Federal (MPF). No último fim de semana, o site The Intercept divulgou que a escolha de Moro em integrar a equipe de ministros do presidente Jair Bolsonaro (PSL) teria causado preocupação entre os integrantes da Lava Jato, que temiam por interpretações de que o ex-juiz teria agido politicamente na condução da operação.
A Folha de S. Paulo também divulgou conversas atribuídas a membros do MPF sobre a negociação de delação premiada do empreiteiro da OAS, Leo Pinheiro. O empresário teria mudado diversas vezes sua versão sobre o caso tríplex para conseguir fechar o acordo – que ainda não foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Pinheiro foi testemunha chave no processo que levou à primeira condenação de Lula na Lava Jato.
Além disso, a audiência com Moro na Câmara ocorre dois dias depois de manifestações pró-governo serem realizadas em diversas cidades do Brasil. Uma das bandeiras levantadas pelos manifestantes foi a defesa da Operação Lava Jato.
Em meio aos acontecimentos, a estratégia dos apoiadores de Moro será explorar um erro cometido pelo Intercept ao divulgar a última leva de conversas entre procuradores. O editor do Intercept, Glenn Greenwald, publicou em seu Twitter uma prévia da reportagem, com nomes e datas errados. Depois justificou: foi um erro de edição.
A justificativa, utilizando a palavra edição, foi a senha para que apoiadores de Moro e da Lava Jato argumentassem que o editor do site confessou que as mensagens divulgadas são adulteradas. Desde que os diálogos começaram a ser publicados, Moro e a força-tarefa dizem não reconhecer a autenticidade de todo o material.
“Nós vamos explorar muito o fato de o Intercept ter confirmado que adultera as mensagens”, disse o líder da bancada da bala na Câmara, deputado Capitão Augusto (PR-SP). “Vamos nos apegar a isso e falar o máximo possível”, diz. O parlamentar também acredita que Moro chega à audiência mais fortalecido depois das manifestações de domingo.