Em depoimento, o ex-secretário de Saúde disse também que não consegue trabalhar por usar tornozeleira eletrônica que, segunda ele, dispara alarme com frequência
No segundo dia de depoimentos dos réus no processo oriundo da Operação Manaus Caminhos, o ex-secretário de Saúde do Estado, Pedro Elias, disse que nunca privilegiou informações e pagamentos ao Instituto Novos Caminhos (INC), do empresário e médico Mouhamad Moustafa, apontado como líder do esquema criminoso que desviou milhões da Saúde do Amazonas. Com quem, ainda segundo ele, mantinha uma relação de afinidade e respeito.
Na denúncia do Ministério Público Federal (MPF), a acusação diz que Pedro Elias dava tratamento privilegiado a Mouhamad com o repasse de informações sigilosas. Estima-se que o ex-secretário tenha recebido quase R$ 1,6 milhão em propina.
“Na crise [à época que estava à frente da Susam], todas as empresas de saúde tinham repasses atrasados. Toda vez que travava disto era falado de todas elas. Não me recordo de ter privilegiado uma outra ou outra, pois o contexto de crise era o mesmo. Eu falava diuturnamente com os presidentes das empresas, nos reunimos com muita frequência e tratávamos do mesmo assunto: pagamentos e eventual paralisação dos serviços”, disse o réu.
Ainda sobre a relação com Mouhamad, Pedro Elias informou que o empresário fazia muitas brincadeiras e que chegou a ir na casa dele, localizada no condomínio Ephigênio Salles, na Zona Centro-Sul de Manaus, e de outros presidentes de cooperativas. “No condomínio onde Mouhamad mora, há outros colegas médicos e também pacientes com quem eu frequentava as residências”, disse o réu, que é cirurgião-geral e proctologista.
Pedro negou que tenha recebido alguma propina do empresário e disse que a sua remuneração sempre foi a de um servidor público. “Se eu tivesse este dinheiro todo, teria trazido meu pai e a minha mãe pra cá. Meu filho, em Brasília, mora de aluguel. O carro popular que tenho e uso foi financiado pelo banco Bradesco. Minha mulher anda de ônibus”, declarou.
Alegando prejuízos financeiros por conta do processo, Pedro Elias afirma que não pode exercer a profissão de médico por conta da tornozeleira eletrônica que usa, devido à medida cautelar imposta pela Justiça. Segundo o réu, o aparelho de monitoramente dispara alarme com freqüência durante o dia.
“Eu tenho que ir deixar a minha filha correndo na escola, pois dispara. E também quando estou em reunião com o Conselho Universitário. Como vou atuar em um centro cirúrgico?”, indagou.
Após Pedro, o próximo a passar por interrogatório hoje de manhã, na sede da Justiça Federal no Amazonas, na Zona Centro-Sul de Manaus, será o ex-secretário da gestão do ex-governador José Melo, Raul Zaidan. A partir das 13h está previsto a coleta do depoimento de Wilson Alecrim, Afonso Lobo e de Melo.