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Os dois lados de Narciso

Narciso entrou pra história após apaixonar-se por sua própria imagem refletida nas águas de um rio! De acordo com a mitologia grega o belo e arrogante rapaz teria se debruçado para beber água e ficou tão encantado com a própria imagem que, após passar muito tempo se admirando, acabou morrendo no leito do rio. Transportando para os dias atuais, Narciso seria apenas um jovem qualquer com um smartphone de última geração, com uma câmera de alta qualidade para que pudesse registrar cada movimento da sua beldade! Podemos refletir alguns aspectos dessa autoimagem idealizada, mas será que ela é de todo tão negativa?

Eu e mim

A lenda de Narciso espelha um comportamento egoísta, pouco empático, exibicionista e de pessoas que querem – socialmente – sempre ser o centro das atenções. Se julgam superiores aos demais e resistem a admitirem falhas, erros ou mentiras. É claro que somente o desequilíbrio exacerbado dessas (entre outras) características significa que o portador seja considerado narcisista, mas é um bom passo. E mesmo que o diagnóstico do transtorno não seja tão evidente, os traços de personalidade estão tão presentes na nossa sociedade quanto os preenchimentos de lábios, anabolizantes em excesso e cirurgias plásticas desnecessárias.

Mas, o enorme desejo de serem extraordinárias, contribui para que percam a noção do entorno e da realidade de quem são. É a autoestima elevada, que no fundo – é sintoma da baixa estima escondida.

Meu filho, meu mundo

E se adultos apresentam esse comportamento é preciso observar como estamos educando as crianças, já que influenciamos na formação psicológica dos nossos filhos e muitas vezes os mimamos exageradamente. São crianças e jovens da geração chamada de millennials, influenciados – em boa parte – por pais e responsáveis frustrados, que viveram à margem da fria e dura realidade da década de 70, e que veem os rebentos como seus reflexos no espelho da vida, inspirando-os a inflar o ego sempre com elogios exagerados, brinquedos demais e paparicos em todos os graus. E isso parece natural em tempos de redes sociais, selfies, historinhas de vidas felizes e gente superficial. Mas, nem só de negativismo sobrevive o narcisismo.

A outra cara

Uma reportagem da BBC on-line, do ano passado, apresentou uma pesquisa do doutor Kostas Papageorgiou, da Universidade Queen´s de Belfast, mostrando que os narcisistas são frequentemente bem-sucedidos socialmente, não se deixam intimidar pela rejeição e que seu desejo por atenção pode torná-los “encantadores” e altamente motivados. Se adicionarmos a autoconfiança nessa receita, o resultado final pode conduzir o narcisista ao topo do sucesso.  Mesmo que isso pareça irritante, o narcisista é mentalmente forte e abraça desafios.

A questão central é que o narcisista gosta de dominar as pessoas e as situações. Nesse caso, o melhor que podemos fazer é observar e não nos deixarmos cair nessa armadilha. Para finalizar, Papageorgiou diz que “traços de personalidade não devem ser vistos como ‘bons ou maus’, mas como ‘produtos da evolução’ e ‘expressões da natureza humana’”. Então, que Narciso descanse em paz, o mundo continua tão diferente ou igual aos tempos do belo rapaz!

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