O estudo destaca que a maioria das novas vagas formais que têm sido geradas no país possui remuneração máxima de até dois salários-mínimos.
Durante os anos de recessão econômica e de crise no emprego, aumentou a proporção de lares brasileiros sem qualquer renda proveniente do trabalho, de acordo com levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
As famílias mais pobres ou simplesmente sem renda de trabalho representam mais da metade (52%) dos lares brasileiros.
No segundo trimestre de 2019, 22,4% dos domicílios do país não possuíam renda do trabalho. No segundo trimestre de 2014, quando começou a crise econômica, essa fatia era de 19,0%.
Já as famílias de renda muito baixa, que recebiam menos de R$ 1.638,70 mensais, representavam 29,6% de todos os domicílios brasileiros no segundo trimestre deste ano.
Conforme o Ipea, houve elevação acentuada do índice de Gini – medida de desigualdade de renda – desde 2016, com destaque para a desigualdade da renda do trabalho por domicílio.
O índice de Gini da renda domiciliar do trabalho subiu de cerca de 0,514 no quarto trimestre de 2014 para 0,533 no mesmo trimestre de 2018, ficando relativamente estável em 0,532 no segundo trimestre de 2019, apontou o Ipea.
“Esse aumento do Gini se deve à retomada da ampliação da desigualdade entre os extremos da renda”, ressaltou o Ipea na carta de Conjuntura sobre o mercado de trabalho divulgada nesta quarta-feira.
O estudo também destaca que “enquanto no primeiro trimestre de 2019 a renda domiciliar do trabalho da faixa de renda alta era 30,1 vezes maior que a da faixa de renda muito baixa, no segundo trimestre a renda domiciliar da faixa mais alta era 30,5 vezes maior”.
O número fica praticamente igualado ao pico da série histórica (30,6) atingido no terceiro trimestre de 2018.
O levantamento do Ipea tem como base os microdados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O estudo destaca que a maioria das novas vagas formais que têm sido geradas no país possui remuneração máxima de até dois salários-mínimos.
Apenas as duas primeiras faixas salariais – os empregos com remuneração de até um salário mínimo e de um a dois salários mínimos – vêm mantendo saldos positivos desde 2017.
Para os demais níveis salariais, a dispensa de trabalhadores é maior que o total de admissões, apontou o estudo. O levantamento também ressaltou que “os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho, sobretudo em 2015 e 2016, geraram não apenas uma expressiva dispensa de trabalhadores”.
Além disso, houve uma queda dos salários de contratação, dado que a única faixa de emprego com saldo positivo no período era a que remunerava até um salário-mínimo.
Cai desemprego de jovens, mas aumenta desigualdade
Enquanto as famílias de renda muito baixa registram um recuo de 1,4% nos seus rendimentos médios reais no segundo trimestre de 2019, o segmento mais rico da população aponta uma alta salarial de 1,5%, o que evidencia o aumento da desigualdade.
Esta é uma das conclusões da seção de Mercado de Trabalho da Carta de Conjuntura do Ipea, também divulgada nesta quarta-feira (18).
O documento ressalta que a diferença salarial entre os domicílios mais ricos e os mais pobres é explicada, em parte, por um aumento mais forte da inflação nas classes de renda mais baixa.
De acordo com o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, essa parcela da população foi mais impactada pelos reajustes de energia elétrica, tarifas de ônibus e medicamentos, no período em questão.
A pesquisa do Ipea traz ainda os dados abertos por faixa etária: no segundo trimestre de 2019, apenas o segmento dos trabalhadores com mais de 60 anos não apresentou recuo na taxa de desocupação, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Entre os trabalhadores mais jovens, o desemprego apontou maior retração, passando de 26,6% para 25,8%, entre 2018 e 2019.
Ao contrário dos trimestres anteriores, em que a queda da desocupação entre os jovens era decorrente, sobretudo, da contração da força de trabalho, no segundo trimestre de 2019 a expansão de 1,7% da ocupação foi a principal responsável por esta melhora de desempenho.
Em sentido contrário, mesmo diante de uma alta de 5,3% da população ocupada com mais de 60 anos, a taxa de desemprego deste segmento avançou 0,4 ponto percentual, passando de 4,4% para 4,8%, repercutindo a alta de 5,7% da força de trabalho mais idosa.
Na comparação interanual, a desocupação dos trabalhadores com idade entre 25 e 39 anos e entre 40 e 59 anos passou de 11,5% e 7,5%, respectivamente, em 2018, para 11,1% e 7,2%, em 2019.
Já o recorte por grau de escolaridade sinaliza que, excetuando-se o grupo de trabalhadores com o ensino fundamental completo, todos os demais subgrupos registraram redução da desocupação no segundo trimestre de 2019.
Embora a maior retração absoluta tenha ocorrido entre os trabalhadores com ensino médio incompleto (0,6 ponto percentual), em termos relativos, os recuos mais expressivos ocorreram nos segmentos extremos, ou seja, com instrução fundamental incompleta e superior.
Deve-se ressaltar, no entanto, que a queda de 4% na desocupação de ambos os grupos foi gerada por movimentos distintos.
Enquanto o recuo do desemprego entre os mesmos escolarizados veio de uma retração de 3,4% da força de trabalho diante de uma queda de 2,9% na ocupação, entre os mais educados a melhora da desocupação veio pela expansão da população ocupada (6,3%) e pelo ritmo superior à expansão da população economicamente ativa (5,9%).
Por fim, os dados do Caged indicam que, a partir do 2º semestre de 2018, a geração de novos postos de trabalho com carteira assinada no país voltou a apresentar maior dinamismo.No acumulado em 12 meses, até́ julho de 2019, a economia brasileira havia criado 521,5 mil novos empregos formais.
Houve uma recuperação também dos salários médios de contratação, embora mantenham-se, historicamente, abaixo dos salários de demissão.
Na sua grande maioria, os trabalhadores demitidos são aqueles com menos tempo de permanência no emprego. Na média dos últimos 12 meses, enquanto na indústria, no comércio e nos serviços quase a metade dos demitidos estava trabalhando há́ menos de um ano, na construção civil esse percentual avança para 62%.
Em contrapartida, a menor parcela dos trabalhadores dispensados é formada por aqueles que possuíam mais de cinco anos de permanência no emprego. Se na indústria de transformação essa parcela corresponde a 14%, na construção civil não chega a 5%.