Apesar das investigações de tráfico internacional de órgãos apontarem para Hélder Bindá como o principal suspeito, ele não foi preso pela PF. Outras pessoas são investigadas no caso
A Polícia Federal no Amazonas revelou detalhes da Operação Plastina, que investiga o tráfico internacional de órgãos em Manaus. De acordo com as investigações, o principal suspeito de enviar uma mão e três placentas para Singapura é o professor de anatomia da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Hélder Bindá, que foi identificado por meio de exames grafotécnicos como o remetente da encomenda enviada pelo Aeroporto Internacional Eduardo Gomes de Manaus.
Segundo o delegado da PF, Igor Barros, a investigação sobre o caso começou em outubro de 2021, quando agentes federais detectaram, por meio do raio-x no aeroporto, o material orgânico de origem humana.
“Materiais para remessa internacional, em alguns casos, passam por raio-x. Por meio da tela, nós conseguimos identificar que possuíam traços que seriam, aparentemente, de origem humana. Nós fizemos um laudo pericial médico que realmente constatou que tais materiais são humanos”,
revelou o delegado.
Após a apreensão do material, a PF fez os exames grafotécnicos nas informações escritas a mão pelo remetente e identificou o professor. O coordenador do Laboratório de Anatomia Humana da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Helder Bindá Pimenta, realizou uma técnica de plastinação nos órgãos enviados.
“A Polícia Federal fez a apreensão do material. Na sequência, por meios de laudos periciais na grafia do remetente, nós conseguimos chegar de fato à pessoa responsável pela remessa desse material. Inclusive, nós verificamos até mesmo o método utilizado, a plastinação, que basicamente consiste na preservação de materiais biológicos, para poder fazer essas remessas a longo prazo sem a detecção de cheiro, odor e tudo mais”,
revelou o delegado da PF.
Operação Plastina
A operação da PF faz referência à técnica utilizada para conservar órgãos – foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão, no Laboratório de Anatomia da UEA e na casa do professor, que foi afastado de suas funções na universidade por 30 dias.
Outros envolvidos
Após a operação, o objetivo agora é identificar, por meio dos materiais recolhidos, se há participação de outras pessoas. Além de identificar a origem dos órgãos.
“Os mandados visam investigar a participação de outros possíveis envolvidos, além da origem desse material, de onde que partiu”,
contou o delegado Igor Barros.
Inicialmente, caso o suspeito seja condenado, ele poderá pegar até 8 anos de prisão por tráfico internacional de órgãos. Agora, se houver a participação de outras pessoas no crime, pode haver uma alteração na pena.
Quem é o professor?
Com um currículo extenso, Helder Bindá é conceituado na área da saúde. O professor é um dos únicos profissionais do Amazonas especializado na técnica de plastinação, que foi o método utilizado para conservar os órgãos enviados.
Formado em Fisioterapia pela Universidade Adventista de São Paulo (Unasp), Helder tem doutorado em Ciências Morfofuncionais pela Universidade Federal do Ceará, é mestre em ciências biomédicas, possui especialização em Educação na Saúde no curso de Medicina pela UEA e em Unidade de Terapia Intensiva pelo Unasp.
Sua pesquisa ficou entre as dez melhores entre os 65 trabalhos publicados no congresso Experimental Biology (Biologia Experimental), em Orlando, nos EUA. O evento é um dos mais prestigiados encontros interdisciplinares do gênero no Mundo.
Nota da UEA
A Universidade do Estado do Amazonas do também divulgou nota sobre a presença da PF no seu campus de saúde, na manhã de hoje. Leia abaixo, na íntegra:
“Na manhã desta terça-feira (22/02), após recebimento do Ofício nº 09/2022, da 4ª Vara da Justiça Federal, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) decretou o afastamento cautelar por 30 (trinta) dias de um professor concursado da disciplina de Anatomia, da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA/UEA).
Ao mesmo tempo, foi realizada busca e apreensão pela Polícia Federal de um computador e peças anatômicas tratadas por meio de plastinação, utilizadas como prática de ensino da disciplina, no laboratório de Anatomia.
O referido laboratório, realiza a técnica de plastinação desde 2017. A plastinação é um procedimento técnico de preservação de matéria biológica, criado pelo cientista Gunther Von Hagens em 1977, e que consiste em extrair os líquidos corporais, tais como a água e os lipídios, através de métodos químicos, para substituí-los por resinas elásticas de silicone e rígidas epóxicas.
Após tomar conhecimento do ofício que determinou o afastamento cautelar do professor investigado e da ação de busca e apreensão no laboratório supracitado, a Reitoria da UEA cumpriu a ordem judicial e determinou a abertura de sindicância para a apuração dos fatos e responsabilidades“.