Portal Você Online

PF tem ofícios de Wilson Lima alertando sobre falta de oxigênio a Pazuello e Exército 5 dias antes da crise

O insumo se esgotou nas primeiras horas do dia 14, cinco dias após os ofícios enviado pelo governador do Amazonas, quando pacientes com Covid-19 morreram sem ar nos hospitais de Manaus

governador do Amazonas, Wilson Lima, enviou ofícios alertando para a falta de oxigênio

Investigação da Polícia Federal no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF), que apura as responsabilidade pela falta de oxigênio em Manaus que vitimou pacientes pela falta de ar nos hospitais da capital amazonense, possui documentos que comprovam o alerta do governador Wilson Lima com antecedênia sobre a iminência do esgotamento do insumo no Amazonas.

A jornal Folha de São Paulo teve acesso a esses documentos sigilosos que comprovam e reúnem evidência contra o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello na investigação da PF.

De acordo com a reportagem do jornal, ofícios foram enviados no dia 9 de janeiro – cinco dias antes do colapso no sistema de saúde de Manaus – pelo governo do Amazonas para Pazuello e o comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA), general Esteban Theophilo.

Os ofícios informam da “iminência de esgotamento” de oxigênio e para a “necessidade de resguardar a vida dos pacientes”. O conteúdo do documento afirma ainda que a fornecedora do insumo, a White Martins, diz que possui 500 cilindros disponíveis em Guarulhos (SP) “prontos para o transporte aéreo” imediato.

Saiba mais

O oxigênio em Manaus acabou nas primeiras horas do dia 14, cinco dias após os ofícios. Pacientes com Covid-19 morreram começaram a morrer sem no Hospital Universitário Getúlio Vargas, onde médicos passaram a bombear ar manualmente para tentar salvar os internados.

Outros ofícios teriam sido enviados pelo ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, ao Comando Militar da Amazônia, nos dias 7 e 8. Somente após o colapso no dia 14 houve intensificação do transporte de oxigênio.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que o transporte de cilindros foi feito de forma escalonada, entre 8 e 30 de janeiro, ultrapassando um total de 5.000. Os cilindros eram provenientes de Belém e Guarulhos.

No caso dos tanques de oxigênio, o transporte foi feito nos dias 12, 14 e 15, afirmou a pasta. “Por se tratar de um deslocamento arriscado e proibido de ser feito por aviação civil, o envio do oxigênio líquido foi feito em contêineres, em aeronaves militares que ficaram prontas para o transporte seguro.”

Antes do colapso, o transporte foi de 5.100 metros cúbicos. Com entregas diárias posteriores, superou 1 milhão de metros cúbicos, segundo o ministério.

Exército, Aeronáutica e Ministério da Defesa não responderam aos questionamentos da reportagem do jornal paulista. A defesa de Pazuello disse que ele não está se manifestando sobre o assunto.

Os relatórios oficiais que documentaram o que ocorria em Manaus e que previram o que viria a ocorrer registram com precisão a escalada do consumo de oxigênio.

No dia 11, o consumo já chegava a 50 mil metros cúbicos. No dia 13, 70 mil. Essa quantidade se aproximou dos 100 mil metros cúbicos no auge da crise. A quantidade transportada em aviões da FAB, porém, foi bem inferior ao necessário para evitar o colapso.

O governador do Amazonas também enviou ofícios pedindo ajuda e alertando para “iminência de esgotamento” de oxigênio aos governadores de Acre, Roraima, Maranhão, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal. Os ofícios têm a data de 10 de janeiro.

No dia 12, um novo ofício foi remetido a Pazuello. O ministro foi avisado de que o consumo havia mais do que triplicado. O governo do estado pediu que fossem enviadas microusinas e geradores de oxigênio. Não há registro desse tipo de transporte antes do colapso no dia 14.

Em depoimento na CPI da Covid, em 19 de maio, Pazuello afirmou que só tomou conhecimento do risco da falta de oxigênio na noite do dia 10 de janeiro, em reunião com o governador e o secretário de Saúde do Amazonas.

O então ministro, porém, recebeu uma ligação do secretário ainda no dia 7. Confrontado com essa informação por senadores, o general admitiu a conversa, mas afirmou que não foi avisado sobre iminência de colapso. Teria recebido apenas um específico pedido de ajuda para transportar cilindros de oxigênio.

Veja a cronologia, a partir de alertas para a falta do oxigênio:

7.jan

  • White Martins manda email à Secretaria de Saúde do Amazonas registrando alerta sobre risco de escassez de oxigênio
  • Secretaria pede ajuda ao Comando Militar da Amazônia para o transporte aéreo urgente de cilindros de oxigênio que estavam em Belém

8.jan

  • O email à Secretaria de Saúde teria sido encaminhado ao então ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, segundo a AGU. Depois, o gabinete do ministro negou essa versão
  • Um novo ofício do governo do Amazonas ao Comando Militar da Amazônia oferece novas informações para o transporte de oxigênio de Belém a Manaus

9.jan

  • Ofício do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), alerta para o risco de escassez de oxigênio e detalha pedido de ajuda a Pazuello, com solicitação de transporte de 500 cilindros da White Martins em Guarulhos (SP)
  • O governador também manda ofício ao comandante militar da Amazônia, com o mesmo teor, pedindo ajuda para transporte de 36 tanques de oxigênio líquido

11.jan

  • White Martins manda email pedindo “apoio logístico imediato” para transportar 350 cilindros de oxigênio gasoso, 28 tanques de oxigênio líquido, 7 isotanques e 11 carretas. O pedido foi direcionado a dois coronéis do Exército com atuação no Ministério da Saúde

12.jan

  • Em novo ofício a Pazuello, governo do Amazonas pede ajuda para transporte de microusinas e geradores.

14.jan

  • O sistema de saúde em Manaus entra em colapso, já nas primeiras horas do dia, por falta de oxigênio. O insumo transportado com auxílio do governo foi insuficiente. Pacientes morrem asfixiados nos hospitais.

Notícias Relacionadas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *