Sequestrador teve depressão, surto e ouvia vozes. Para a Delegacia de Homicídios, Willian Augusto agiu sozinho.

Willian, momentos antes de ser baleado
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
A Delegacia de Homicídios da Capital (DH) acredita ter encontrado o celular de Willian Augusto da Silva, o homem que sequestrou 39 pessoas num ônibus na Ponte Rio-Niterói nesta terça-feira (20) e acabou morto por atiradores de elite do Bope.
Segundo a polícia depois que todos os pertences dos passageiros foram devolvidos, restou um aparelho. O telefone tem as características do celular que estavam com o criminoso, conforme depoimento das vítimas.
O aparelho, contudo, está bloqueado com senha. Um laboratório vai tentar ter acesso aos dados.
Os investigadores esperam, com o telefone do criminoso, entender o que o motivou a tomar o coletivo e sobretudo se agiu sozinho.
A DH já tomou o depoimento de 57 pessoas – entre reféns, policiais e parentes do criminoso. Familiares confirmaram que o sequestrador tinha problemas psicológicos.
Os snipers – fuzis de precisão foram usados

PM mira em sequestrador antes de disparo
Foto: Gabriel de Paiva
Posicionado a pelo menos 80 metros do alvo, um policial do Bope, de balaclava, usou um fuzil de precisão AR-10, de fabricação americana, para pôr fim ao sequestro. A primeira informações da PM foi que esse agente, que estava camuflado sob uma manta vermelha, em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros, foi o autor dos seis disparos que atingiram o sequestrador. Os snipers são conhecidos atiradores de elite, que têm aproveitamento de 100% dos disparos.
Para fazer parte da Unidade de Intervenções Táticas do Bope, o policial precisa ter, no mínimo, 10 anos de experiência operacional e reunir habilidades técnicas, especialmente de tiros de arma longas — as únicas usadas nesse tipo de operação. Eles também passam por reciclagem constante e treinam, em média, quatro horas por dia para adquirir perícia suficiente que os torne capazes de atingir objetos bem pequenos como uma moeda, a distâncias superiores a 100 metros. Até a respiração é treinada.
Ele (o sniper) está em constante treinamento. Tiros de arma longa, a grandes distâncias, com diversos tipos de obstáculos — explica o fundador do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) de São Paulo, coronel Wanderley Mascarenhas. — O trabalho psicológico e as técnicas de respiração também são muito importantes, porque ele não pode ficar nervoso, ofegante. A respiração desnivelada pode provocar o erro no disparo.
A decisão de atirar, que terminou com o sequestro, foi motivada pelo receio de que o sequestrador ateasse fogo ao ônibus. Mesmo baleado, seria possível causar com uma simples fagulha um grande incêndio porque havia gasolina espalhada por todo o veículo. No ônibus, havia vários reféns.
O armamento, que chamou a atenção, é uma aquisição relativamente recente. O AR-10 é a mais precisa arma usada no momento pela Polícia Militar do Rio. Ela pode ser manuseada por agentes do Bope e dos batalhões de Choque e de Ação com Cães. Equipada com uma luneta e um bipé para sustentação, a arma foi adquirida em 2014 para substituir os fuzis modelo ParaFal, de produção nacional, que eram utilizados pelas tropas especiais. Fora do Brasil, o armamento também é usado pelos Seals da Marinha americana.
Ontem à tarde, o comandante do Bope, tenente-coronel Maurílio Nunes, disse que o resultado da ação mostra que a unidade “está no caminho certo”.
— Lutamos para salvar vidas, para resguardar a vida da sociedade. Independente se são 39 vítimas ou uma… Uma vida não tem preço, e o Bope sempre vai estar em condições de salvar e resguardar vidas. Não foi 100% porque não era o final que nós gostaríamos, mas foi 99% de sucesso.