Funcionário trabalhava numa base do órgão no Vale do Javari, munícípio amazonense de Atalaia do Norte, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram mortos, na região da tríplice fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru
A Polícia Federal no Amazonas realizou na manhã desta terça-feira (4) a exumação do cadável do funcionário trabalhador da Fundação Nacional do Índio (Funai ) Maxciel Pereira dos Santos, de 34 anos, que foi morto com dois tiros na cabeça quando andava de motocicleta com sua mulher em uma rua de Tabatinga, na divisa com a cidade colombiana de Letícia, em setembro de 2019.
Ele morava e trabalhava no município de Atalaia do Norte (AM), onde fica a reserva indígena do Vale do Javari, mesma região onde foram mortos o jornalista britânico Dom Phillips e o servidor Bruno Araújo Pereira, este ano.
A PF investiga a suspeita de ligação das mortes com uma organização criminosa liderada por Rubens Villar Coelho, mais conhecido como Colômbia, que atua na pesca e comercio ilegal em áreas indígenas, além do envolvimento com tráfico de drogas na região da tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia.
De acordo com as investigações da PF, Jeferson da Silva Lima e os irmãos Amarildo e Oseney da Costa de Oliveira, atualmente presos como suspeitos de envolvimento nas mortes do indigenista e do jornalista e mais cinco indiciados na ocultação dos cadáveres, seriam empregados de Colômbia.
O inquérito da PF que apura o caso até hoje, vai tentar encontrar as balas que atingiram a nuca do servidor da Funai e a partir dai fazer um exame de balística para identificar a arma de onde partiu o tiro. A investigação não foi concluída e nenhum suspeito foi indiciado.
O corpo de Maxciel foi levado para a sede da PF em Tabatinga, de onde será depois transportado para o Instituto Nacional de Criminalistica da corporação em Brasília.
Colômbia
Colômbia”, que é peruano, foi preso em flagrante em 8 de julho passado após se apresentar na sede da PF com documentos falsos. Ele tinha ido até lá após ter seu nome citado como suspeito da morte de Bruno e Dom.
Ele foi transferido para Manaus por ordem do juiz Fabiano Verli, da Justiça Federal do Amazonas, que considerou o risco de “resgates possíveis”. Verli determinou que ele fosse encarcerado na sede da Superintendência da Polícia Federal na capital amazonense, Manaus.
Em depoimento, Colômbia negou envolvimento nas mortes do indigenista Bruno Pereiro e do jornalista Dom Phillips. Disse que tem apenas “relação comercial’ com pescadores da região do Vale do Javari, onde os dois foram mortos.
O crime
O funcionário da Funai, Maxciel Pereira, foi morto com dois tiros na nuca quando andava de moto com a sua mulher e a enteada na Avenida da Amizade (foto abaixo), que liga Léticia na Colômbia a cidade brasileira de Tabatinga, no Amazonas. Dois homens em outra motocicleta se aproximaram e atiraram. Ele morreu na hora e os outros ocupantes sofreram ferimentos na queda da moto, que perdeu o controle.
“Max havia acabado de retornar da base de proteção da Funai no posto do Rio Curuçá. “Ele chegou por volta das 9 horas. Eu já estava pronta esperando, a gente pegou a baleeira e descemos o rio, fomos pra Tabatinga. Chegamos lá por volta da uma hora da tarde, fomos pra mãe dele. Saímos para comprar almoço e, quando a gente terminou de almoçar, fomos pra casa do irmão dele, onde a gente ficava hospedado. Ficamos lá descansando até às cinco e meia que foi quando eu senti fome e chamei ele pra ir jantar. Quando a gente saiu, foi coisa de dez minutos e aconteceu a tragédia”, relembra a mulher de Maxciel, que é professora e tem sua identidade sob sigilo.
“Quando deram o primeiro tiro eu estava olhando pro outro lado da rua, eu achei que fosse um pneu de um carro que tivesse estourado. Quando eu olhei pro outro lado, eles já estavam emparelhados com a gente com a arma encostada na cabeça do Max. Eu vi a arma na minha frente, mas foi tudo muito rápido. Tão rápido que não deu pra ver se a pessoa tava de capacete, sem capacete. Só deu pra ver a arma apontada para a cabeça do meu marido. Depois dos tiros, a gente foi virando, caindo e já foi todo aquele desespero”, diz.
O funcionário da Funai, já havia recebido diversas ameaças de morte nos dias que antecederam o crime. Segundo informações da Funai à época, a principal base da Funai onde ele trabalhava se chamava Ituí-Itacoaí e funcionava em uma balsa.
Quando o homicídio aconteceu, a base já havia sido atacada em quase ocasiões, desde 2018. A instalação fica a 40 km de Atalaia do Norte, e tem a missão de impedir o acesso de pessoas não autorizadas na reserva Indígena.
À epoca, indígenas da região relataram que várias pessoas fizeram novas ameaças após o assassinato de Maxciel, dizendo que “mais mortes poderiam acontecer”.
Demarcada em 2001, a reserva do Vale do Javari, no município de Atalaia do Norte – 1.100 km de Manaus – reúne as tribos indígenas Marubo, Kanamary, Kulina, Tsonhom Djapa, Matis e Mayoruna/Matsés, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Ainda segundo a entidade, o território tem a presença de outros 19 povos isolados e é considerada a área com maior presença de índios isolados do mundo com aproximadamente 6,3 mil indígenas.