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Presidente da OAB vai ao STF contra Bolsonaro


Bolsonaro questionou a ação da OAB durante o processo para apurar o atentado sofrido em Juiz de Fora (MG), no ano passado, e afirmou que se o presidente da entidade quiser saber sobre a “verdadeira história” do que aconteceu com seu pai, ele pode contar o que ocorreu.

Presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, e o pai que desapareceu durante a ditadura militar

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, decidiu interpelar Jair Bolsonaro pelas declarações que o presidente deu sobre o seu pai. 

Santa Cruz já constituiu o advogado Cesar Brito para entrar com uma ação na STF “para que o presidente diga o que sabe” sobre a morte de Fernando Santa Cruz, ocorrida em março de 1974.

Horas atrás, Bolsonaro ao comentar as investigações sobre seu agressor Adélio Bispo de Oliveira, o presidente voltou a ‘atacar’ o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz , com acusações de que seu pai,  Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar, fazia parte do grupo “mais sanguinário” do movimento Ação Popular. 

Bolsonaro questionou a ação da OAB durante o processo para apurar o atentado sofrido em Juiz de Fora (MG), no ano passado, e afirmou que se o presidente da entidade quiser saber sobre a “verdadeira história” do que aconteceu com seu pai, ele pode contar o que ocorreu.

Adélio foi absolvido por ser doente mental e não poder ser responsabilizado criminalmente em razão disso. Ele foi representado por um advogado que não informava quem estava bancando seus honorários e chegou a ser defendido pela OAB.

“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar e essas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”.


afirmou Bolsonaro.

Não é a primeira vez que o presidente do Brasil e o presidente da OAB trocam farpas. Em 2011, por exemplo, o então deputado federal já havia criticado o pai de Felipe Santa Cruz. Em uma palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF), Bolsonaro disse que Fernando Santa Cruz “deve ter morrido bêbado em algum acidente de carnaval”.  

Em 2016, depois de Bolsonaro homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra no plenário da Câmara dos Deputados, durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT), Felipe Santa Cruz entrou com um pedido de cassação do então parlamentar por “apologia à tortura”.

Ele é cruel e debochou do assassinato do meu pai

Santa Cruz, que disse “estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão”, respondeu ao ataque de Bolsonaro:

” Como orgulhoso filho de Fernando Santa Cruz, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro. O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão. Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro — e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos. Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por “vivência”, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber. A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente. Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas. O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram — e sempre estarão — sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil. Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente.

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