Localizado às margens do Rio Solimões, o município de Alvarães (a 531 km de Manaus) está isolado pela seca. No porto da cidade não atraca mais navio de médio e grande porte, apenas pequenas embarcações.
O abastecimento na cidade é feito a pé, o que encarece os preços de alimentos básicos.
Moradores registram em vídeo e fotos a imensa área de areia e quase nenhuma água. Casas flutuantes estão em terra firme. Segundo a Defesa Civil municipal, a seca afeta 2.072 famílias – 8.288 pessoas. Alvarães tem 16.220 habitantes.
Sidney Rodrigues da Silva, secretário da Defesa Civil de Alvarães, informa que aproximadamente 61 comunidades estão isoladas. Ele disse que a situação este ano é mais grave com a descida “mais acelerada” das águas do que em 2023, quando foi registrada a maior seca da história no Amazonas.
“Ela [embarcação] não está mais fazendo embarque e desembarque na sede do município. Está fazendo em uma comunidade a 30 minutos daqui [de Alvarães], na Aldeia do Marajaí.
O barco já não chega mais no cais […]. Agora, nós estamos correndo um grande risco de a nossa cidade, a sede do município, ficar isolada”, disse Sidney Rodrigues.
O secretário também menciona que a navegação na orla da cidade, anteriormente com grandes embarcações, está difícil até para barcos pequenos devido à formação de blocos de areia.
Outro ponto crítico são as queimadas. “Graças à descida aqui diretamente no nosso município, temos risco, sim, visível, mas não é aquele risco iminente. A questão da queimada mesmo, do incêndio florestal, queimada próxima da cidade, a gente tem feito uma vistoria severa com a Secretaria de Meio Ambiente”, afirma.
Todos os municípios do estado estão em situação de emergência, decretado em junho pelo governador Wilson Lima.
Sem farinha e alimentos caros
Iléia Duarte, moradora do município, relata que a seca deste ano é mais intensa do que a do ano passado. Ela precisa se deslocar da cidade para a comunidade do Juruamã, onde a família possui uma casa. A viagem, que antes levava cerca de uma hora, agora dura em média 2 horas e meia.
“Está mais seco porque ano passado, nessa época, o rio ainda estava mais cheio. Tem uma praia ao lado daqui [Juruamã] onde a gente encosta e, provavelmente, no próximo mês não dará mais para atracar porque tá muito seco mesmo. O pessoal da comunidade que mora mais ali em cima já atravessa para a praia andando. No ano passado não secou tanto”, relata.
Iléia diz que o maior impacto na vida da família é a produção de farinha, uma das fontes de renda. Com a descida dos rios, os igarapés onde são colocadas mandiocas de molho, um processo essencial para a produção, secaram.
“A questão é que não se pode mais fazer farinha. Os igarapés secaram tudo e isso compromete a renda aqui de casa. Causa também a perda da roça [onde se planta] e encarece o produto, pois se produz menos”, afirma.
Ileia acrescenta que antes a família ia todos os finais de semana para Alvarães, mas agora vão com menos frequência devido ao aumento do tempo de deslocamento e ao perigo causado pela formação de blocos de areia e desmoronamentos de barrancos.
Ela também menciona que os preços dos alimentos aumentaram consideravelmente. “O preço da linguiça era R$ 27, agora tá R$ 38 o quilo. O arroz, que a gente comprava por R$ 5,50, agora está entre R$ 7,30 e R$ 8. Tudo tá muito caro. Tudo dobrou mesmo de preço”.
Amazonas
Desde que houve o decreto de situação de emergência, conforme Boletim da Defesa Civil, divulgado nesta segunda-feira (23), a estiagem já afeta 123.250 mil famílias, cerca de 492.962 mil pessoas em todo o Amazonas.
A capital amazonense, banhada pelo Rio Negro, a cota do nível do rio está em 14,49 metros. A cota mínima registrada em 2023 foi de 12,70, ou seja, rio está a 1,79 metros para atingir a cota histórica, conforme dados do Porto de Manaus.