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Seca já afeta 287 mil amazonenses, o manejo de pescados, o transporte e encarece alimentos

O governo do Amazonas divulgou nesta quarta-feira (28) o último boletim emque 20 municípios estão em situação de emergência, afetando aproximadamente 287,7 mil pessoas ou 71,9 mil famílias, devido à seca no Amazonas.

Na semana passada eram 268,6 mil pessoas, ou cerca de 67,1 mil famílias.

Como parte das medidas de enfrentamento, o governo já enviou 496 toneladas de alimentos e 200 toneladas de medicamentos e insumos para as regiões mais afetadas.

Além disso, 15 cilindros de oxigênio foram destinados ao hospital de Canutama, e 24 purificadores de água foram instalados, com 10 deles na calha do Alto Solimões, visando melhorar o acesso à água potável.

Paralelamente à crise de seca, o Amazonas enfrenta um aumento preocupante no número de queimadas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 7.130 focos de incêndio no último sábado (24), um aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior.

No domingo (25), toda a Amazônia Legal contabilizava 1.894 focos de incêndio ativos. O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas combateu mais de 10,1 mil focos de incêndio desde junho, com 761 ocorrendo na capital e 9.400 no interior do estado.

Além dos esforços para combater os incêndios, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) já embargou 305 áreas, totalizando 16.659,83 hectares, e aplicou multas no valor de R$ 83,9 mil.

Seca afeta o manejo de pescados

Na chegada à comunidade Santa Helena do Inglês, em Iranduba (AM), embarcações que vêm pelo Rio Negro já não alcançam a plataforma de madeira para que as pessoas possam descer até o solo.

 Após uma das maiores secas da história na Amazônia, em 2023, o nível do rio não voltou ao que era antes e, além de afetar a navegação, trouxe prejuízos para a principal atividade econômica dos ribeirinhos: a pesca.

Atualmente, na região de Iranduba, o rio encontra-se cerca de dois metros abaixo do nível em que deveria estar nesta época do ano. Nas margens da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, onde está Santa Helena do Inglês, o chão se divide entre gramado verde e terra vermelha, esta última ocupando o espaço que era do rio.

As famílias locais vivem da pesca de jaraqui, no período de março a junho, e cultivam mandioca para subsistência e venda dos subprodutos em Manaus. Mas o clima mudou a dinâmica da produção.

Em anos normais, os ribeirinhos da Santa Helena pescam pouco mais de cem toneladas de peixe por ano. Uma tonelada é comercializada entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Na temporada de 2024, no entanto, Brito estima que a produção caiu em torno de 50%.

Pirarucu

Em Tefé, na região central do Amazonas, a seca de 2023 impactou pela primeira vez, em 25 anos, a pesca do pirarucu, espécie protegida e cujo manejo depende de autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).

Dos 12 grupos de pescadores habilitados a capturar a espécie na região, só cinco conseguiram pescar a quantidade a que tinham direito e dois sequer se arriscaram a realizá-la.

“A logística de entrega desse peixe ficou muito difícil sem ter acesso ao lago. Por isso ficamos muitos dias esperando encher o rio”, conta o ribeirinho e presidente da colônia de pescadores de Maraã, a 190 quilômetros de Tefé, Raimundo Torres. Segundo ele, a comunidade atingiu um resultado 20% abaixo do esperado.

Estima-se que mais de 280 comunidades e seis mil pescadores dependam da pesca do pirarucu para o seu sustento no Amazonas. 

Pesca do pirarucu na Amazônia  — Foto: Clovis Miranda/FAS

Com um custo duas vezes maior, a decisão do pescadores de Maraã foi vender a produção no próprio local de pesca, o que reduziu o valor recebido de R$ 8 o quilo quando entregue no frigorífico para R$ 6,20.

Rios secos no Amazonas

Em Manaus, o Rio Negro baixou quase dois metros apenas em agosto deste ano, atingindo um nível crítico de vazante. Na sexta-feira (23), a medição registrou 21,93 metros, de acordo com o Porto da capital, responsável pela aferição dos níveis. Na mesma data, em 2023, a marca era de 24,83 metros.

As cidades do Alto Solimões, como Tabatinga, estão em situação mais crítica, com dificuldade para receber insumos e água potável.

Em Envira, na fronteira com o Acre, a seca provocou um aumento de até 100% no preço de alguns alimentos. Já no centro de Manaus, o valor quilo da macaxeira e da laranja aumentaram, e os feirantes temem a escassez dos produtos nos próximos dias.

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