Por Cristina Monte
Ela não se esquece de colocar a blusinha de frio da filha na mochila da escola. Lembra-se de deixar o dinheiro da condução da faxineira em cima da mesa da cozinha. Carrega consigo uma sacola com a camisa do marido para levar à costureira. Impecável, traz ainda a roupa da ginástica para ir à academia após o expediente. Quem é ela?
Apenas uma personagem fictícia, representando uma mulher de classe média, que trabalha, estuda, cuida da casa, filhos, marido e tudo o que cerca o universo feminino, mas – apesar de muita competência – ela ainda acha que não faz o bastante, se sente inferiorizada, ou se acha uma “farsante”, por pensar que engana as pessoas não sendo o que aparenta ser. A nossa personagem ainda não sabe, mas ela pode sofrer da Síndrome do Impostor!
Nunca é tão boa
O modelo acima foi só pra mostrar que, mesmo com uma vida tão dinâmica e esmerada, cuidada nos mínimos detalhes, muitas de nós não encontram um lugar confortável na sociedade quando o assunto é autoestima.
Estudamos mais, trabalhamos mais, mas, nossos cargos e salários ainda são mais baixos, por exemplo! Temos mais atividades que nossos companheiros, mas essas tarefas quase nunca são consideradas no meio social, tornam-se invisíveis!
E se isso tudo ainda não bastasse, muitas mulheres têm baixa estima, insegurança quanto ao potencial intelectual e cognitivo. A impressão é que não somos tão capazes quanto eles. Por mais que a gente faça, realize ou conquiste, ainda não é suficiente! Provavelmente, isso seja uma herança do “sexo frágil”, fruto de uma sociedade machista em que a mulher era vista como objeto de “beleza”! Então, parece que nunca somos capazes de realizações, e quando elas ocorrem, não enxergamos o brilho da vitória.
E é isso que é a Síndrome do Impostor, uma autoanálise extremamente crítica, autocobrança excessiva e que prejudica milhares de profissionais (homens e mulheres) pelo mundo afora, é capaz de destruir a autoconfiança e empurrar a gente ladeira abaixo.
As mais afetadas
Aqui, estou puxando pro lado das mulheres, pois elas são as mais afetadas pela Síndrome do Impostor, mas é importante dizer que a síndrome atinge homens também. Pelo menos é o que mostra uma reportagem, do início de julho, da revista Exame online.
O texto aponta um estudo realizado pela psicóloga Gail Mattewa, na Universidade Dominicana da Califórnia, no qual a autora revela que 70% dos profissionais bem-sucedidos apresentam os sintomas mencionados acima, principalmente as mulheres.
Já em artigo de Miriam Grobman para a revista Época Negócios online, a autora expôs os desafios superados durante sua jornada de estudante e profissional. A certa altura comenta que se sentiu e se sente com “a sensação de peixe fora da água” nos estudos e agora como empreendedora.
Às vezes, o próprio meio em que crescemos nos diz “você não é capaz”. Essa afirmação silencia a alma e paralisa as nossas ações. Então, no íntimo, acreditamos que não somos capazes, mesmo com toda competência. Evitamos diálogos com nossos colegas no trabalho, não falamos nas reuniões, evitamos pedir ajuda em projetos, e passamos a vida num canto do escritório, sempre como figurantes.
Outras, apesar das conquistas, acham que não são capazes de cursar uma universidade renomada ou trabalhar numa empresa super bacana, por exemplo. Calma, “você não é uma farsa”!
Mulheres de verdade
Algumas dicas para elevar nossa autoestima e dar um pontapé nessa crença limitante, incluem evitar comparações com outras pessoas, entender que nem sempre somos mais capazes que os outros, mas isso não é nenhum fim-de-mundo, empodere-se, considerando tudo o que de bom já fez e conquistou, isso dá uma força incrível, aceite e receba bem os elogios, comente com amigos e familiares sobre as suas conquistas.
A questão é que a maioria de nós desconhece a Síndrome, dificultando o esclarecimento e tratamento, o que perpetua sintomas e mal-estar ao longo do tempo. Olhe pra si e comemore cada pequena conquista, cada passo! Afinal, somos mulheres de verdade: no trabalho, no lar, no estudo, na vida!