O suposto autor dos ataques a tiros na cidade alemã de Hanau foi encontrado morto em sua casa nesta quinta-feira, ao lado do corpo da mãe.

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O ministro do Interior do estado de Hesse, Peter Beuth, disse nesta quinta-feira que xenofobia foi a motivação do ataques a tiros em dois bares na cidade de Hanau, na Alemanha, na noite de quarta-feira. Um alemão, de 43 anos, fez vários disparos dentro de dois bares onde os frequentadores fumavam narguilê, um hábito comum no Oriente Médio, deixando pelo menos nove mortos. A chanceler federal Angela Merkel classificou o massacre como “um crime arrepiante” provocado pelo ódio, xenofobia e racismo.
— O racismo é um veneno, o ódio é um veneno que existe em nossa sociedade — afirmou. — É um dia muito triste para a Alemanha.
De acordo com as autoridades, o suspeito teria um histórico de extremismo de direita e foi encontrado morto na própria casa, ao lado do cadáver da mãe, de 72 anos.
O autor do ataque tinha armas legalmente e praticava tiro esportivo. Promotores do caso estão tratando o incidente como terrorismo. Uma escola e várias creches na região permaneceram fechadas nesta quinta-feira.
— É um ataque à nossa sociedade livre e democrática — disse Beuth a legisladores estaduais, que se reuniram para um momento de silêncio pelas vítimas antes de cancelar a sessão do dia.
Beuth também informou que a polícia ainda está investigando se o suspeito, cujo nome não foi revelado, deixou uma carta de confissão e um vídeo, como noticiou a imprensa alemã. As autoridades também estão examinando um site atribuído ao suspeito.
O jornalista alemão Peter Neumann, especialista em terrorismo do King’s College de Londres, afirmou que o texto encontrado é um “manifesto de 24 páginas” que expressa um “ódio aos estrangeiros e aos não brancos”.
“Faz um apelo ao extermínio de vários países do Norte da África, Oriente Médio e Ásia central, usando termos explicitamente eugenistas, afirmando que a ciência demonstra que algumas raças são superiores”, explicou Neumann no Twitter. O suposto autor alegava ter sido “vigiado toda sua vida pelos serviços secretos” e se descreve com um “celibatário involuntário”, enquanto “confessa nunca ter mantido uma relação com uma mulher”, continua Neumann.
Bairro com imigrantes
Hanau é uma cidade de 100 mil habitantes no estado de Hessen, a cerca de 25 quilômetros a leste de Frankfurt. O ministro disse ainda não poder dizer com certeza quem estava nos bares na hora dos ataques, mas o jornal Bild afirmou que entre as vítimas havia pessoas de ascendência curda.
— Este é um bairro misto. Existem pessoas de todo o mundo, afegãos, sírios, africanos — disse o morador Ismail Oezenc ao New York Times.
Oezenc, que vive no centro de Hanau e está atualmente desempregado, contou que a área costumava ser um animado encontro da vida noturna alemã, mas agora as ruas estão repletas de salas de jogos eletrônicos e lojas de kebab.
O primeiro ataque ocorreu em Kurt-Schumacher-Platz, no centro de Hanau, com oito ou nove disparos vindos de um carro. O segundo aconteceu em Kesselstadt.
Nas redes sociais, o alto representante da União Europeia (UE), Joseph Borrell disse que a melhor maneira de expressar solidariedade com as famílias e vítimas “é agir contra o ódio, o racismo e a violência, dentro e fora da UE”.
Nos últimos anos, a Alemanha foi alvo de vários ataques de extremistas islâmicos, um dos quais matou 12 pessoas em Berlim em dezembro de 2016. Mas a ameaça de terrorismo da extrema direita também preocupa as autoridades alemãs, especialmente desde o assassinato de um deputado do partido da chanceler Angela Merkel, em junho passado, que era favorável a imigrantes.