WhatsApp muda regras de privacidade e app deixa de ser o mais baixado do Brasil. Aplicativo de mensagens registrou cerca de 25 milhões de usuários nas últimas 72 horas. A partir de 8 de fevereiro, WhatsApp irá exigir o compartilhamento com o Facebook.

O Telegram registrou cerca de 25 milhões de novos usuários nas últimas 72 horas, disse seu fundador, o russo Pavel Durov, nesta terça-feira (12). A migração para o aplicativo é vista depois de o WhatsApp ter anunciado que irá compartilhar dados com o Facebook, a partir de 8 de fevereiro.
“Durante a primeira semana de janeiro, o Telegram ultrapassou os 500 milhões de usuários ativos mensais. Depois disso, continuou a crescer: 25 milhões de novos usuários chegaram ao Telegram nas últimas 72 horas”, disse Dúrov nas redes sociais.
Durante a sua história, o Telegram já havia tido ondas repentinas de registros, mas Dúrov afirmou que “desta vez é diferente”.
Nesta terça, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi um dos que anunciaram ter aderido a rede social. Ele divulgou o seu novo canal no Telegram em post feito no Twitter. A sua conta no aplicativo de mensagens foi criada em 9 de janeiro.
Novas regras para o WhatsApp: 4 perguntas sobre as mudanças no aplicativo
Qual o impacto de fato da nova política de privacidade?
O WhatsApp passou a notificar seus usuários na semana passada que a atualização dos seus termos de serviço e de sua política de privacidade entrará em vigor dia 8 de fevereiro e que só poderá continuar usando o aplicativo quem aceitar s mudanças. A notificação indica como o usuário pode deletar sua conta, caso discorde da atualização.
Essa mensagem diz ainda que as mudanças envolvem atualizações importantes sobre “como tratamos seus dados”, “como as empresas podem usar os serviços de hospedagem do Facebook para armazenar e gerenciar suas conversas no WhatsApp” e “como a nossa (do WhatsApp) parceria com o Facebook possibilita a oferta de integrações entre os Produtos das Empresas do Facebook”.
Segundo a especialista em segurança de dados Mariana Rielli, líder de projeto do Data Privacy Brasil, a mudança de fato não significa uma grande atualização na política de privacidade do WhatsApp. Ela explica que, na verdade, boa parte dos usuários do WhatsApp já compartilham seus dados com as outras empresas do Facebook, mas possivelmente não estão conscientes disso.

O que aconteceu agora é que o Facebook quer intensificar sua integração com o WhatsApp para que empresas que vendem serviços e produtos em suas redes sociais possam cada vez mais usar suas contas comerciais no aplicativo de conversa para interagir e fazer negócios com os usuários, inclusive viabilizando pagamentos e compras diretamente nesse canal. Além disso, a rede social vai passar a vender um serviço para empresas com grande volume de mensagens gerenciarem as conversas realizadas com os consumidores pelo WhatsApp.
Com isso, foi pedido um novo consentimento dos usuários para permitir que seus dados sejam compartilhados também nesses novos modos de uso do WhatsApp, por meio de contas comerciais (WhatsApp Business).
O comunicado à imprensa do aplicativo de mensagens disse ainda o seguinte: “Para aumentar a transparência, o WhatsApp atualizou suas Políticas de Privacidade para que descrevam que, daqui para a frente, as empresas podem optar pelos serviços seguros de hospedagem do Facebook para ajudar no gerenciamento das comunicações com seus clientes no WhatsApp. Embora, é claro, continue sendo uma decisão do usuário se ele gostaria ou não de se comunicar com uma empresa no WhatsApp”.

2. Como saber qual foi sua escolha em 2016?
A assessoria do WhatsApp não soube informar quantas pessoas no Brasil optaram por não ter seus dados compartilhados em 2016 e quanto isso representa do total de usuários.
Se você já estava no WhatsApp naquele momento e não se lembra da sua escolha, pode solicitar essa informação à empresa.
Isso é feito dentro do aplicativo, entrando na página de “ajustes” ou “configurações” (a depender do seu aparelho celular), clicando no item “conta” e, em seguida, em “solicitar dados da conta”.
O relatório com seus dados será disponibilizado em três dias.
3. O que o Facebook ganha com as novas regras para o WhatsApp?
O Facebook anunciou em outubro que lançará no início deste ano um serviço pago para as empresas gerenciarem sua conversas com clientes pelo WhatsApp. Hoje, as companhias com contas comerciais já podem contratar esse serviço de outras empresas certificadas pelo Facebook.
No anúncio do novo serviço, o Facebook destacou que, embora as mensagens transmitidas nas contas comerciais sejam criptografadas, o WhatsApp não considera que nesses casos existe uma criptografia “de ponta a ponta” porque as empresas podem disponibilizar esse conteúdo para terceiros, como serviços de gerenciamento de mensagens.
“Esse também será o caso se o fornecedor terceirizado for o Facebook”, ressaltou.
Já no texto em que explica as mudanças na política de privacidade, o WhatsApp detalha algumas aplicações que isso permitirá: “Oferecemos às empresas a opção de utilizar os serviços seguros de hospedagem do Facebook para gerenciar as conversas com seus clientes no WhatsApp, responder a perguntas e enviar informações úteis, como recibos de compra”.
“Porém, o conteúdo da sua conversa (seja por telefone, e-mail ou WhatsApp) pode ser visto/lido pela empresa, e algumas informações compartilhadas na conversa podem ser utilizadas pela própria empresa para fins de marketing, inclusive para fazer publicidade no Facebook.
“Se você escolher usar as Lojas, suas atividades de compra poderão ser usadas para personalizar sua experiência nas Lojas e os anúncios que você vê no Facebook e no Instagram. Esses recursos são opcionais e quando você os usa, nós informaremos diretamente no app do WhatsApp como e por que seus dados serão compartilhados com o Facebook”, prossegue o texto.

4. Com as mudanças, vale migrar para Signal ou Telegram?
Após o anúncio da nova política do WhatsApp, a procura por seus principais concorrentes disparou. De acordo com dados da empresa de análise Sensor Tower, o Signal foi baixado globalmente 246.000 vezes na semana antes do WhatsApp anunciar a mudança em 4 de janeiro, e 8,8 milhões de vezes na semana seguinte.
O Telegram se mostrou ainda mais popular, com downloads crescendo globalmente de 6,5 milhões na semana que começou em 28 de dezembro para 11 milhões na semana seguinte.
Para o especialista em segurança de dados Marcos Simplicio, professor de Engenharia de Computação na USP, cada aplicativo tem vantagens e desvantagens e a escolha dependerá dos interesses do usuário em usar os serviços das empresas do Facebook e de quão ele está disposto a abrir mão de sua privacidade.
“Para quem já coloca sua vida pessoal inteira no Facebook, é pouco provável que faça alguma diferença significativa (a mudança de política do WhatsApp)”, diz.
A opção queridinha dos especialistas em segurança de dados, diz o professor, é o Signal, serviço também grátis disponível para Android e iOS e usado pelo ex-analista da CIA Edward Snowden, que ficou famoso após tornar públicos detalhes sobre programas de vigilância do governo dos Estados Unidos.
O aplicativo foi criado por um grupo independente de desenvolvedores de software chamado Open Whisper Systems, cujo fundador é o hacker Moxie Marlinspike.
O Signal, que é sustentado por meio de doações, não coleta dados pessoais, como lista de contatos do usuário, nome e foto do perfil, informações de grupos, dados de localização, entre outros. Outro grande diferencial, diz Simplicio, é a maior transparência.
“O Signal é tão cifrado quanto os outros (em termos de mensagens criptografadas), mas o código é aberto. Então, dá para auditar melhor que o WhatsApp ou o Telegram”, afirma.
Por outro lado, a grande desvantagem do Signal é que tem um universo de usuários muito menor, enquanto o WhatsApp tem 2 bilhões de pessoas inscritas. Isso significa que você provavelmente não encontrará no Signal todas os contatos com os quais quer trocar mensagens.
Já o Telegram, que tem alcance intermediário entre seus dois concorrentes, é outra opção disponível sem custo, para Android e iOS, que também traz pontos positivos e negativos, diz Simplicio.
Segundo sua política de privacidade, o aplicativo não usa os dados dos usuários para gerar anúncios e armazena apenas informações necessárias para a operação do serviço de troca de mensagens.
Por outro lado, sua criptografia não é considerada tão segura, devido ao sistema usado pelo Telegram para realizar backup (armazenamento) das mensagens automaticamente para o usuário. Isso permite que, em caso de perda desse conteúdo, o usuário o recupere totalmente, sem perder as trocas mais recentes, como ocorre no WhatsApp.