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Vaquinha arrecada mais de R$100 mil para amazonense ‘nota mil’ no Enem estudar em Manaus

Estudante do interior do estado não tinha dinheiro para pagar a matrícula na universidade, passagens de ida e volta ou morar em Manaus

Uma vaquinha virtual feita para ajudar a amazonense Rilary Castro, de 18 anos, que tirou nota mil na redação do Enem 2022, já arrecadou mais de R$ 102 mil nas primeiras horas da campanha, nesta sexta-feira (24). Ela é estudante da Escola Estadual Tereza dos Santos, em Itapiranga, no Amazonas – 227 km em linha reta de Manaus), e está entre os 24 alunos da rede pública de todo o Brasil a alcançar a nota 1000 na redação do Enem, mas não tinha dinheiro para fazer a matrícula, nem a passagem para a capital do estado onde fica a faculdade.

No ano passado, ela já havia passado no vestibular da Universidade do Amazonas (UEA), mas não teve R$ 78,00 para fazer a matrícula no curso de Engenharia de Materiais e dinheiro para pagar a passagem.

Segundo os organizadores da vaquinha, mesmo antes de fazer a prova do Enem, Rilary sabia que não poderia começar a estudar de forma imediata na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), uma vez que a faculdade fica a mais de cinco horas do município onde ela mora com a família.

O dinheiro arrecadado vai custear o material didático do curso de Engenharia Civil, que ela vai cursar, e para as despesas com a estadia na capital amazonense nos cincos anos de duração do curso, mesmo tendo ganho abrigo estudantil, disponibilizado pela universidade.

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A estudante não tem acesso a à internet em casa e nem frequentou cursinho pré-vestibular. Ela se virou apenas com livros emprestados pela escola.

Rilary tem expectativa de conseguir um bom resultado no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Sua pontuação foi boa e ela acredita que possa conseguir uma vaga no curso desejado.

“Antes mesmo de saber as pontuações do Enem, já tinha conversado com a minha família e dito que iria continuar estudando para fazer os vestibulares que são das próprias universidades e tentar ingressar somente em julho. Não consigo agora, no início do ano, por questões logísticas mesmo, como moradia e meio de transporte, iniciar uma faculdade em Manaus”, disse Rilary, antes da vaquinha online.

A estudante vive um drama que já foi o do irmão mais velho, com quem mora, junto da avó aposentada. Ele foi o primeiro da família a ingressar em uma universidade pública. Mas teve que trancar o curso de Engenharia de Software por não ter mais condições financeiras de continuar durante a pandemia da Covid-19.

Mesmo tendo se empenhado nos estudos, Rilary disse ter ficado surpresa ao saber do desempenho que teve na redação.

Ela e os colegas que também fizeram o exame, já haviam chegado à conclusão de que o melhor seria que todos começassem a se preparar para outras provas, não depositando todas as esperanças somente no Enem.

Mas a prática levou a estudante a alcançar a tão nota mil na redação, que teve como tema “desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”.

Livros antigos

“Fiquei muito surpresa quando vi a nota, não me imaginei tirando essa pontuação. Eu olhava o rascunho que estava comigo e achava que não tinha ido tão bem. Estudava com os livros de curso pré-vestibular da escola, e eles eram bem antigos. Em cidades do interior, é difícil chegar material mais atualizado. Mas, quando eu sentia que precisava muito de mais informações sobre um determinado assunto ou disciplina, corria na biblioteca da escola e pegava mais livros”, disse.

“Tenho muita determinação e vejo que muitas pessoas do interior também têm. Às vezes, querem cursar até mesmo cursos menos disputados, mas precisam se deslocar até Itacoatiara e Manaus. Muitas coisas impedem a gente de ir para a faculdade. Inclusive questões financeiras. Do que adianta tirar notas altas? Vendo toda essa situação, de se esforçar e mesmo assim não conseguir realizar o sonho de estudar, vai diminuindo muito as nossas expectativas. Me sinto injustiçada”, afirmou Rilary em entrevistas durante a semana.

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