Ministro da Economia afirma que furar o teto de gastos vai levar presidente a uma “zona de impeachment”. Pasta viu saída de mais dois secretários e tem perdido influência para desenvolvimentistas no governo.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na noite de terça-feira (11) que auxiliares de Jair Bolsonaro estão aconselhando o presidente a “furar” o teto de gastos. Guedes não citou nomes, mas disse que essas figuras estão levando Bolsonaro para uma “zona sombria” que pode provocar o impeachment do presidente.
“Os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular a cerca e furar teto vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal. O presidente sabe disso, o presidente tem nos apoiado”, afirmou o ministro.
Nas últimas semanas, a imprensa brasileira vem relatando que há uma pressão crescente por parte de algumas alas desenvolvimentistas para flexibilizar o teto de gastos, aprovado no governo Michel Temer em 2016.
Essas alas defendem mais investimentos públicos e programas, entre eles o Renda Brasil, uma versão repaginada do Bolsa Família. No momento, com o decreto de estado de calamidade em todo o país, o governo não é obrigado a cumprir o teto de gastos.
Na Esplanada, Guedes tem protagonizado conflitos com o titular do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que defende mais gastos públicos.
Pedido de demissões – As declarações de Guedes foram feitas depois que dois altos secretários da sua pasta pediram demissão: Salim Mattar (Desestatização e Privatização) e Paulo Uebel (Desburocratização, Gestão e Governo Digital).
Guedes admitiu que o ministério sofreu uma “debandada”. Nos bastidores, os dois estavam insatisfeitos com com o ritmo das privatizações e das reformas. Bolsonaro foi eleito com um discurso liberal e privatista. Guedes também fez grandes promessas e expôs planos que por vezes soaram irreais. Mas o governo não entregou praticamente nada até agora.
Agora, a saída dos secretários expôs um congelamento da agenda de Guedes e um enfraquecimento da pasta.
“Hoje houve uma debandada”, afirmou. “O que ele [Mattar] me disse é que é muito difícil privatizar, que o establishment não deixa haver a privatização, que é muito difícil, muito emperrado, que tem que ter apoio mais definido, mas decisivo. O secretário Uebel, a mesma coisa. A reforma administrativa está parada, então ele reclama também que a reforma administrativa parou”, disse Guedes.
O ministro também sugeriu que as reformas e as privatizações têm caminhando em ritmo lento por causa da ação do próprio presidente. “Um tá reclamando, dizendo que tá indo devagar. Outro tá dizendo ‘vai no ritmo que eu quiser, eu que sou o presidente da República, eu que tive o voto, se você quiser, você sai'”, disse.
“Se o presidente quiser ser reeleito, nós temos que nos comportar dentro dos orçamentos, fazendo a coisa certa e enfrentando os desafios de reformas”, completou.
Desde o início do mandato de Bolsonaro, Guedes já perdeu uma série de nomes da sua equipe original. Em junho, o secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, deixou a pasta para ser presidente do Banco dos Brics.
No mesmo mês, Mansueto Almeida pediu para deixar o Tesouro Nacional. No mês seguinte, foi a vez de Caio Megale pedir para sair da Secretaria de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação, e de Rubem Novaes anunciar sua saída da presidência do Banco do Brasil.
No ano passado, Guedes já perdido o ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra, demitido em setembro, e Joaquim Levy, que pediu demissão após uma passagem relâmpago pela chefia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).