No Brasil, três em cada dez entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais – não consegue compreender frases simples, interpretar informações básicas ou realizar operações matemáticas cotidiana.

Dados compilados pelo Ministério da Educação mostram que 50 dos 62 municípios do Amazonas possuem taxas de analfabetismo acima da média nacional, que é de 7%, segundo o Censo 2022.
O município com o pior desempenho é Itamarati, com 26,44% da população com 15 anos ou mais sem saber ler e escrever. Na sequência aparecem Envira (26,31%) e Eirunepé (25,28%).
Outros municípios com taxas elevadas incluem Ipixuna (24,16%), Pauini (24,12%), Atalaia do Norte (22,82%), Guajará (22,36%), Barcelos (21,29%), Tapauá (20,81%) e Juruá (20,64%).
Ao todo, o Amazonas tem 197.146 pessoas com mais de 15 anos em condição de analfabetismo.
Na capital, Manaus, o índice é bem inferior à média nacional: apenas 2,98% da população com 15 anos ou mais não é alfabetizada.
Outras 11 cidades amazonenses também registram taxas abaixo da média, como Parintins (4,07%), Boa Vista do Ramos (4,37%) e Silves (5,51%).
A estagnação foi revelada na edição mais recente do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgada nesta segunda-feira (5).
Nacional
Três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. Esse grupo, que não consegue compreender frases simples, interpretar informações básicas ou realizar operações matemáticas cotidianas, representa 29% da população, o mesmo índice registrado em 2018.
Realizada após seis anos de interrupção, a pesquisa nacional avaliou habilidades de leitura, escrita e matemática em uma amostra representativa de 2.554 pessoas em todas as regiões do país. A nova edição também incluiu, pela primeira vez, dados sobre alfabetismo no contexto digital.
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o cenário é de piora. Em 2018, 14% estavam na condição de analfabetos funcionais. Em 2024, o número subiu para 16%.
O relatório aponta que o aumento pode ter ocorrido por causa da pandemia, período em que as escolas fecharam e muitos jovens ficaram sem aulas.
“Um resultado melhor só pode ser alcançado com políticas públicas significativas no campo da educação e não só da educação, também na redução das desigualdades e nas condições de vida da população”, segundo Roberto Catelli, coordenador da área de educação de jovens e adultos da Ação Educativa.
Norte tem 57% da população com alfabetismo insuficiente
No Norte do Brasil, os dados revelam que 57% da população entre 15 e 64 anos ainda está abaixo do nível considerado adequado de letramento.
Desse total, 22% são analfabetos funcionais e 35% estão no nível elementar. Apenas 43% da população da região apresenta alfabetismo consolidado.
Os dados da série histórica do Inaf mostram que, apesar de oscilações ao longo dos anos, a taxa de analfabetos funcionais no Norte se mantém elevada desde 2011.
A escolaridade segue como fator determinante. Entre aqueles que cursaram apenas os anos iniciais do ensino fundamental, 80% permanecem como analfabetos funcionais. Já entre os que concluíram os anos finais, 43% ainda não atingiram o nível consolidado de alfabetização.
Desigualdades raciais e de escolaridade
O Inaf também expõe desigualdades raciais no acesso ao letramento pleno. Entre os brancos, 28% são analfabetos funcionais. Entre negros, o índice sobe para 30%. A situação é mais grave entre indígenas e pessoas amarelas: 47% são analfabetos funcionais, e apenas 19% têm alfabetismo consolidado.
O cruzamento dos dados com a escolaridade revela que o ensino formal, embora influente, não garante domínio pleno da leitura e da escrita. Entre os que concluíram o ensino superior, 12% ainda são analfabetos funcionais. Por outro lado, apenas 10% de toda a população brasileira estão no nível mais alto de alfabetismo, classificado como “proficiente”.
Para Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório da Fundação Itaú, “a gente vai precisar melhorar o ritmo de como estão acontecendo as coisas porque estamos já em um ambiente muito mais acelerado, em meio a tecnologias, à inteligência artificial”.
Ela defende ainda que é preciso “aumentar a qualidade” e garantir o aprendizado adequado na educação básica.
O estudo é coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social. A edição de 2024 foi realizada em parceria com a Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unesco e Unicef. A margem de erro é de dois a três pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.