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Cid: “Moraes é a lei e tem sentença pronta”; áudios

Tenente-Coronel do Exército preso afirma que Moraes tem a sentença pronta e que, independente do Ministério Público e de acusação ou não, ‘manda soltar e prender’

Depoimentos de Mauro Cid à PF somam 33 horas

Depois de relatar que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria planejado um golpe militar no Brasil para impedir a posse de Lula à Presidência, o ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid confidenciou a interlocutores que os depoimentos na Polícia Federal têm sido distorcidos e deu a entender que a PF tem um roteiro pronto para confirmar nos interrogatórios, alguns com até 9 horas de duração. A revista Veja teve acesso aos áudios da conversa do militar e publicou com exclusividade, nesta sexta-feira (22) em sua página na internet, a matéria que sairá na edição impressa deste final de semana.

Nas conversas (ouça os áudios), Cid diz que suas falas teriam sido tiradas de contexto e outras foram convenientemente omitidas pela PF. A reportagem de Veja mostra o ex-ajudante de ordens criticando os agentes federais que conduzem a investigação. Por exemplo, ele diz que a PF o pressionou a relatar fatos que simplesmente não aconteceram e detalhar e detalhar eventos sobre os quais não tinha conhecimento.

O tenente-coronel afirmou que policiais o induziram a aceitar declarações de testemunhas e aponta um delegado que o teria constrangido a reproduzir informações específicas, sob pena de perder os benefícios do acordo.

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“Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, contou. “Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, diz Cid em um áudio – ouça abaixo.

Em outro áudio, ele cita Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como alguém que está acima da lei. “O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação.”

Segundo a Veja, a gravação foi realizada na semana passada, depois que Mauro Cid prestou depoimento à PF, na segunda-feira (11). Na condição de colaborador e obrigado a falar a verdade, ele foi ouvido por nove horas seguidas.

Depois, na conversa com um amigo, desabafou por quase uma hora. “Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu?”

“É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: ‘Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Segundo ele, o delegado teria dito: ‘Só essa brincadeira são trinta anos para você’.”

Cid disse que os delegados encarregados do caso só registravam as informações que se encaixavam naquilo que ele chama de “narrativa”. “Eu vou dizer o eu senti eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”, ressaltou.

Na conversa, de acordo com a reportagem, o ex-ajudante de ordens também faz críticas pesadas a Moraes, responsável pelos inquéritos que apuram a tentativa de golpe, a venda de joias do acervo presidencial e a falsificação de registros de vacina, casos que têm Jair Bolsonaro como investigado.

O objetivo de tudo, segundo ele, seria pegar o ex-presidente. “O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, afirmou o tenente-coronel.

Para mostrar ao interlocutor que haveria uma filtragem das informações que são oficializadas pela PF, Cid fala de um suposto encontro entre o ministro e Jair Bolsonaro, que não ficou registrado nos seus depoimentos. “Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale?’.”

“Eles (Polícia Federal) estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam que eu confirmasse a narrativa deles”, afirma.

Na tentativa de se defender junto ao interlocutor, o ex-ajudante de ordens ainda faz uma série de considerações sobre a condução dos processos.

“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo.”

Em setembro do ano passado, depois de passar 129 dias preso, o ex­-aju­dan­te de ordens assinou um acordo de colaboração premiada com a Justiça. Ele se comprometeu a contar o que sabia e, em troca, no final dos processos, caso seja condenado, vai cumprir uma pena de, no máximo, dois anos de prisão.

Fonte: Veja

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