Cidades que vivem o medo: Paracatu, 2. Rio Acima, 3. Caldas, 4. São Gonçalo do Rio Abaixo, 5. Itabitiro, 6. Ouro Preto, 7. Congonhas, 8. Casa Branca; 9. São Sebastião das Águas Claras, 10. Itabira, 11. Riacho dos Machados, 12. Salinas, 13. Bocaiuva.
O jornal Estado de Minas, do grupo Diários Associados, identificou em 13 cidades empreendimentos que vêm tirando o sono de seus vizinhos, especialmente desde a última catástrofe. Itatiaiuçu, Barão de Cocais e Brumadinho, vivem o medo por serem vizinhas de diversos empreendimentos minerários . Mas elas não são as únicas.
Nessa sexta-feira, em duas cidades, o temor de que outros reservatórios não estivessem 100% seguros retirou de suas casas quase 400 pessoas, removidas às pressas em operações de emergência coordenadas que envolveram a Defesa Civil e forças de defesa social em Barão de Cocais, na Região Central, e Itatiaiuçu, na Grande BH.
Mas o sentimento de insegurança é muito mais amplo e se espalha por várias regiões de um estado marcado pela mineração, onde milhares de pessoas vivem abaixo de represas nem sempre seguras, de rejeitos ou de água.
Foi esse temor que se tornou transtorno concreto em Itatiaiuçu, outra cidade que tem a mineração como ponto forte da economia, na Grande BH, onde a madrugada de mais de 50 famílias foi marcada pelo pânico.
A comunidade de Pinheiros recebeu a notícia de que precisavam deixar suas casas às pressas, sob o argumento de que um desastre como o que arrasou Córrego do Feijão poderia se repetir. A maioria saiu apenas com a roupa do corpo, temendo que a barragem da Mina Serra Azul, desativada desde 2012, mas armazenando 5,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos, pudesse despejar um novo tsunami de lama sobre suas casas.
De manhã, quando um posto de comando foi montado pela Defesa Civil de Minas Gerais para coordenar as ações de evacuação das famílias, o clima era de desinformação, até que as notícias começaram a chegar com mais clareza. A ArcelorMittal Mineração Brasil informou que a tragédia de Brumadinho gerou uma mudança nas referências do projeto geotécnico da barragem da Mina Serra Azul, e nova avaliação com uma consultoria internacional contratada pela própria empresa apontou mudança de estágio de segurança, de 1 para 2, o que exigia a saída das famílias da mancha de inundação da barragem.
Mais tarde, o presidente da ArcelorMittal Mineração Brasil, Sebastião Costa Filho, chegou a Itatiaiuçu e garantiu que a saída das pessoas de suas casas era necessária. “As alterações vieram por meio de auditorias externas, que levaram em consideração determinadas circunstâncias que foram aprendidas após o último rompimento, que até então não fazia parte desse contexto. Eles puseram fatos novos para avaliar a segurança de uma barragem de rejeitos”, explicou o executivo.
Essa situação fez com que 54 famílias fossem obrigadas a sair às pressas de seus imóveis em Pinheiros, totalizando cerca de 150 pessoas. “Daqui para a frente, estamos trabalhando com novos parâmetros. Vamos executar uma série de testes na barragem e assim que tivermos a garantia de que ela está 100% segura, de que não existe nenhum risco para a comunidade, retornaremos com as pessoas para suas residências”, disse Costa Filho.
Prevenção
Continua depois da publicidadeOs 239 moradores retirados das imediações da Mina Gongo Soco, da Vale, em Barão de Cocais, e os 150 habitantes de Itatiaiuçu removidos das imediações da barragem da ArcelorMittal, na madrugada de ontem, só poderão retornar às suas casas após a constatação técnica de que as estruturas vizinhas não representam risco.
A informação foi dada pelo tenente-coronel Flávio Godinho da Defesa Civil. “Não houve rompimento nessas duas cidades. A medida foi para preservar vidas que ali estão, para que não acontecesse nova tragédia como a de Brumadinho”, afirmou.
Numa escala crescente de 1 a 3 de risco, a barragem da Vale subiu do nível 1 para o nível 2. Segundo Godinho, ao mesmo tempo em que empresa contratada pela mineradora não quis atestar a estabilidade da barragem, técnicos da Agência Nacional de Mineração (ANM) que estiveram em Barão de Cocais se pronunciaram pela evacuação imediata, determinando que se adotasse o nível 2 de atenção.
Já no caso de Itatiaiuçu, a própria ArcelorMittal se antecipou e solicitou a evacuação dos moradores nas imediações da barragem, como forma de prevenção. Não houve, como no caso da Vale, recusa de técnicos de atestarem a estabilidade da barragem da Mina Serra Azul em Itatiaiuçu.
Resgate em Brumadinho
Na sexta-feira, 15º dia de buscas em Brumadinho, foi o primeiro desde a tragédia em que os bombeiros não conseguiram localizar nenhuma vítima. Com o passar do tempo, as condições do ambiente tornam a tarefa mais difícil, como já havia antecipado o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros. Balanço divulgado pela Defesa Civil no início da noite indicou o mesmo número de óbitos – 157, com 151 identificados – e 165 desaparecidos, dos quais 42 funcionários da Vale e 123 terceirizados e moradores da comunidade.