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Estudo estima que a violência gera perdas de R$ 1 trilhão por ano no Brasil

O Brasil gasta, perde e deixa de produzir cerca de R$ 1 trilhão por ano em consequência direta e indireta da violência.

O valor, equivalente a 11% do Produto Interno Bruto (PIB), ajuda a dimensionar um problema que não se resume às estatísticas criminais, mas que se espalha pela economia, pelas empresas, pelas famílias e pelo futuro do país.

Os dados constam do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 e de levantamentos de instituições como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE).

Em 2023, o Brasil registrou 46.328 mortes violentas intencionais, o menor número desde 2011, mas ainda elevado: 22,8 homicídios por 100 mil habitantes. O número pode ter caído, mas o custo segue alto.

Estima-se que cada morte violenta custe em média R$ 1 milhão ao poder público, considerando gastos com saúde, segurança, justiça, previdência e perda de produtividade. Só os homicídios de 2023 geraram um impacto direto de R$ 46 bilhões no orçamento brasileiro.

Somando os gastos dos governos federal, estaduais e municipais, a segurança pública custou ao Brasil R$ 124,8 bilhões em 2023. Desse total, R$ 101 bilhões saíram dos cofres dos estados.

O valor não inclui outros gastos paralelos, como justiça criminal, sistema penitenciário, saúde pública e programas de proteção social.

No Amazonas, por exemplo, o avanço do tráfico de drogas pressiona diretamente o orçamento estadual. Em 2023, o estado bateu recorde de apreensão de cocaína: foram 20 toneladas, bem acima da média histórica de 6 toneladas/ano, evidenciando o papel estratégico da região Norte nas rotas internacionais do tráfico.

O impacto econômico da violência em Manaus

Manaus lidera o ranking nacional de roubo e furto de celulares, segundo o anuário. Em 2023, foram 2.096,3 ocorrências por 100 mil habitantes, o maior índice entre as capitais brasileiras.

Esse dado revela um custo adicional invisível: celulares perdidos ou roubados geram gastos para famílias, empresas, profissionais autônomos e aplicativos de entrega.

A cidade também registrou, em 2023, 3.430 roubos e furtos de veículos e cargas, com uma taxa de 320,6 ocorrências por 100 mil habitantes.

Para o setor produtivo, isso se traduz em aumento no valor de seguros, contratação de segurança privada, perda de mercadorias e redução do fluxo de clientes em determinadas regiões.

Empresas gastam R$ 170 bilhões ao ano com segurança

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) calcula que as empresas brasileiras gastam 1,7% do PIB com segurança privada, o que representa R$ 170 bilhões por ano. É dinheiro que poderia ser investido em tecnologia, expansão ou geração de empregos.

“Já vi empresas abandonarem regiões inteiras por conta da criminalidade. Isso afeta empregos, renda e arrecadação. A violência distorce decisões empresariais e amplia ainda mais a desigualdade regional”, explica André Charone, consultor financeiro.

Para além dos números, o impacto da violência aparece de forma silenciosa em outras áreas da economia: imóveis desvalorizados, evasão escolar por medo, retração do comércio em áreas violentas, perda de produtividade nas empresas e dificuldade de atrair investimentos.

A violência também reduz o potencial de mobilidade social de famílias inteiras. Jovens que abandonam os estudos, trabalhadores afastados por trauma ou estresse e populações isoladas por falta de segurança fazem parte desse custo invisível, mas real.

“A violência afeta a educação, a empregabilidade e a mobilidade social. Ela é, ao mesmo tempo, causa e consequência da desigualdade. E qualquer país que queira crescer precisa enfrentar esse ciclo com seriedade”, reforça Charone.

O enfrentamento à violência deixou de ser apenas um tema policial e passou a ser uma variável econômica estratégica. O Brasil, que já gasta R$ 1 trilhão por ano com os efeitos da criminalidade, carrega um peso que trava seu potencial de desenvolvimento.

“Quando o custo da violência entra na mesa do ministro da Fazenda, do empresário e do cidadão comum, as soluções passam a ser tratadas com a urgência que merecem”, conclui Charone.

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