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Exportações do Amazonas para Argentina caem 14% no primeiro bimestre

As exportações das empresas e comércios localizados no estado do Amazonas para a Argentina sofreram queda de 14% nos dois primeiros meses de 2024 em relação ao mesmo período de 2023.

Os números seguem uma tendência nacional: as exportações brasileiras ao país vizinho como um todo sofreram queda de 28,7%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

De acordo com o Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a queda foi puxada principalmente por bens intermediários como insumos e matérias-primas, os quais sofreram queda de 34,2% em relação ao mesmo período de 2023.

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Em seguida, foi identificada uma queda de 20,8% na exportação de bens de consumo duráveis, como automóveis.

No caso do Amazonas, os principais produtos afetados foram motocicletas e outros ciclos com motor de pistão alternativo e aparelhos receptores de rádio fusão que só funcionem com fonte externa, dos tipos utilizados nos veículos automóveis. Ambos os produtos são produzidos no Polo Industrial de Manaus.

Os dados do MDIC mostram uma variação negativa de 9% em janeiro de 2024 em relação ao mesmo mês de 2023. Em seguida, uma nova retração de 5% no comparativo de fevereiro de ambos os anos.

À revista Valor Econômico, economistas atribuíram a queda às políticas do presidente Javier Milei, eleito pela coligação de extrema-direita Libertad Avanza em 2023.

O gerente geral da Câmara de Importadores da República Argentina (Cira), Fernando Furci, destacou que o país passa por um momento de “reacomodação de sua macroeconomia”.

“Começamos um processo de mudança em que há queda de demanda, processo inflacionário persistente, mas que decresce; e queda do consumo, o que se traduz em menos importações. Esse é um processo que vai durar de seis meses a um ano e terá reflexos em todos os tipos de importação que a Argentina faz”, disse.

O presidente da Federação do Comércio no Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota, seguiu linha de raciocínio semelhante e ressaltou que a Argentina está passando por um momento de transição de governo, o que naturalmente freia a economia.

“Há um momento muito difícil de você compatibilizar com a normalidade da economia. Este momento a gente tem que levar em consideração. Primeiro que o novo governo da Argentina tem outra orientação econômica e política e, além de tudo, ele está assumindo. Até que ele se familiarize, domine todo o cenário da administração da Argentina, vai levar algum tempo”, disse.

O presidente da Fecomércio-AM apontou ainda outros problemas fora do continente, como a crise no setor agropecuário da Europa, colocando mais dificuldades na realização do acordo econômico entre a União Europeia e o Mercosul, que beneficiaria tanto o Brasil quanto a Argentina.

Embora a expectativa de queda seja acentuada, alguns empresários consideram que os números estão dentro da normalidade. O presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, considerou que os índices estão dentro da média para o primeiro bimestre.

“Conforme dados do próprio governo federal, as exportações permanecem no mesmo patamar de 2023. Em janeiro e fevereiro do ano passado, as exportações do Amazonas para a Argentina ficaram em US$ 11.2 milhões e US$ 9.9 milhões, respectivamente. Enquanto que, no mesmo período de 2024, as exportações foram de US$ 10.2 milhões e US$ 9.3 milhões, na média do período. Em novembro e dezembro de 2023, as exportações foram de US$ 2.5 milhões e US$ 3.5 milhões, respectivamente. Os números, entretanto, prontamente retornaram à média histórica”, disse.

Comparativos

A diminuição brusca nas exportações é explicada principalmente pela queda na venda da soja. Em 2023, o mercado brasileiro exportou 2 bilhões de dólares no produto, acima dos 1,93 bilhões em peças e acessórios de veículos. Na época, mudanças climáticas provocaram uma quebra na safra da soja argentina, fazendo com que precisassem importar mais o produto.

Com as mudanças na política econômica implantadas por Javier Milei, as exportações do produto caíram de 124,6 milhões de dólares nos primeiros dois meses de 2023 para 4,23 milhões no mesmo período em 2024.

A economista Natacha Izquiedo, da associação de consultoria Abeceb, avaliou que as importações argentinas deverão ter novas quedas nos próximos meses, resultando em superávit comercial, mas com queda de 30% no consumo das famílias argentinas devido a redução de 6% a 8% nos salários.

Ela espera que haja uma retração de 4,7% no PIB do país.“A desaceleração só não será maior graças ao setor agropecuário e à agroindústria. Sem isso, teríamos contração de 7% da economia argentina neste ano”, disse.

Maior queda em décadas

A queda de 28,7% nas exportações para a Argentina resultou no menor percentual da participação do país nas vendas externas do Brasil desde o início da série histórica em 1997.

O vizinho sul-americano participou de apenas 3,4% das vendas nacionais. Em paralelo, houve uma retração de 14,3% na importação de produtos argentinos por parte do Brasil.

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