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Extinção: Pesquisadores recomendam que jaraqui entre na lista do Defeso

Jaraqui é o peixe mais consumido no Amazonas. Depois dele vem curimatã, matrinxã, tucunaré, surubim e tambaqui.

O peixe queridinho dos amazonenses, o jaraqui, pode estar em risco devido a intensa atividade pesqueira nas últimas décadas. Essa pesca excessiva tem gerado consequências preocupantes para a espécie, segundo os pesquisadores.

Os autores de um estudo sobre o peixe recomendam que o jaraqui seja incluído na lista de pesca proibida durante o período de defeso no estado do Amazonas, enquanto outras pesquisas são realizadas para desenvolver um plano de manejo e regulamentação adequados para sua pesca sustentável.

Além dos desafios da sobrepesca, o jaraqui também sofre com a degradação do meio ambiente, especialmente devido ao desmatamento, um problema que afeta todas as espécies da região.

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Portanto, segundo os pesquisadores, é imprescindível adotar ações efetivas para conservar o habitat natural do jaraqui, garantindo assim a continuidade dessa importante espécie na Amazônia.

Considerando a relevância econômica do jaraqui, responsável por uma significativa parcela do desembarque pesqueiro, seu papel ecológico na ciclagem dos nutrientes, e seu valor cultural enraizado, sendo inclusive reconhecido como patrimônio cultural imaterial de Manaus por lei, a equipe liderada pela pesquisadora e professora Izeni Farias, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), considerou importante avaliar a saúde genética dessa espécie.

Os pesquisadores coletaram amostras de jaraqui em diversas localidades ao longo da bacia amazônica, abrangendo os rios de água preta, branca e clara, nos estados do Amazonas e Pará.

O jaraqui é uma espécie fundamental para o equilíbrio do ecossistema amazônico. Ele desempenha um papel crucial na dispersão de sementes de árvores frutíferas, garantindo a reprodução e a diversidade das florestas tropicais.

Além disso, o peixe também é uma importante fonte de alimento para as comunidades ribeirinhas, sendo essencial para a segurança alimentar e a subsistência de muitas famílias.

No entanto, a demanda crescente pelo jaraqui tem levado à sobrepesca em várias regiões do Amazonas. A utilização de técnicas predatórias e pouco sustentáveis, como redes de arrasto de grande porte e pesca durante o período de reprodução, tem causado uma drástica redução nos estoques naturais do peixe.

A falta de regulamentação e fiscalização adequadas também contribui para a exploração excessiva.

Como a espécie de peixe mais consumida na região amazônica, o jaraqui é responsável por aproximadamente 93% do total de capturas pesqueiras na Amazônia central.

Entretanto, estudos recentes apontam que a sobrepesca, que ocorre quando retiramos da natureza mais indivíduos do que a espécie consegue repor através de reprodução, já causa desequilíbrio em suas populações.

O impacto imediato dessa atividade é a redução do número de exemplares dessa espécie, mas ao longo do tempo, essa diminuição também pode afetar a diversidade genética.

Tal diversidade é de extrema importância, pois reflete o potencial adaptativo da espécie frente às mudanças ambientais. Isso inclui a resistência a doenças, capacidade de lidar com poluentes, variações de temperatura e outros desafios que os indivíduos enfrentam ao longo de suas vidas.

Conforme a professora e pesquisadora Izeni Farias, felizmente, o peixe ainda possui uma grande diversidade genética, o que lhe confere uma maior capacidade de adaptação.

Ao longo das últimas décadas de exploração, para minimizar esse impacto, os pescadores adaptaram suas redes para evitar a captura de exemplares mais jovens.

Adicionalmente, estudos sobre a reprodução do jaraqui sugerem que os indivíduos estão alcançando a maturidade sexual de forma prematura.

De forma alarmante, análises genéticas indicam uma significativa redução no tamanho da população, corroborando a hipótese de que a sobrepesca esteja afetando a espécie.

Consumo

O peixe Jaraqui é o mais pescado, comercializado e consumido no estado, de acordo com a Gerência de Apoio à Aquicultura e Pesca (Geape), do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), e a Colônia dos Pescadores de Manaus. Depois dele vem uma lista diversa de espécies, entre elas curimatã, matrinxã, tucunaré, surubim e tambaqui.

O jaraqui e as demais espécies de pescado são a principal fonte de proteína animal para grande parte da população do Amazonas, que é o maior consumidor no Brasil e um dos maiores do mundo. Alimento básico para 500 mil habitantes da zona rural do Amazonas, o pescado tem consumo per capita por ano em comunidades ribeirinhas de até 180 quilos, segundo dados estimados do Idam. Nas sedes municipais, o consumo estimado é de 40 quilos/pessoa/ano e, em Manaus, de 33 quilos/pessoa/ano, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, em inglês).

Os peixes são encontrados ao longo do rio Solimões/Amazonas e em seus principais tributários, os rios Negro, Madeira e Purus. Segundo o gerente de Pesca da Secretaria de Pesca e Aquicultura (Sepa) da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), João Bosco Silva, os jaraquis sempre foram abundantes e são capturados em grandes cardumes, sendo as espécies mais emblemáticas consumidas pelos amazonenses.

Ele acrescenta que existem duas espécies de jaraqui: o Semaprochilodus taeniurus e o Semaprochilodus insignis, respectivamente conhecidos como jaraquis de escama fina e de escama grossa.

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