
Plantas com flores na Amazônia dependem da polinização para se reproduzir. Ou seja, necessitam das abelhas. Essa relação alcança 90% desse tipo de vegetação na região, afirma a pesquisadora Gislene Zilse, doutora em Ciências Biológicas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Gislene Zilse disse que a falta de conhecimento sobre essa conexão ameaça tanto abelhas quanto plantas pelo uso de inseticidas. O alerta ocorreu nesta semana na 6ª edição dos Seminários da Amazônia, promovido pelo Inpa.
Segundo a pesquisadora, frutos como o açaí, guaraná, castanha do Brasil, cupuaçu e verduras dependem das abelhas. “Para que você tenha uma ideia da importância das abelhas, 51% da polinização [fecundação] do açaí é feito pelas abelhas. São importantes para a manutenção de plantas nativas da nossa região e no mundo”, afirma.
A pesquisadora disse que no Amazonas existem 120 espécies de abelha e 60% delas são naturais do Amazonas. “Por exemplo, temos na região a abelha jandaíra (Melipona subnitida), abelha sem ferrão. Mas ainda não temos um levantamento suficiente para afirmar, de forma precisa, o número de espécies. Estamos estudando ainda. Mas, atenção, sobre o que nós, os pesquisadores, temos conhecimento, percebemos que há um declínio das espécies de abelha na região”, diz Zilse.
O declínio populacional das abelhas, segundo a pesquisadora, é percebido desde a década de 60 e, inclusive, as radiações que emitem as antenas de celulares podem desorientá-las.
“O principal problema são os inseticidas ou agrotóxicos. Por quê? Porque os agrotóxicos são fabricados para matar pragas e, geralmente, as pragas são insetos. E as abelhas são insetos. Por exemplo, se você coloca um inseticida para matar a broca do café (Hypothenemus hampei), ao mesmo tempo o inseticida vai matar a abelha que poliniza o café. Então, é difícil ter esse equilíbrio, é um desafio”, diz a pesquisadora.
Os poucos levantamentos sobre as abelhas no Amazonas mostram que as abelhas estão bem distribuídas na região, mas os pesquisadores ainda não podem afirmar em quais municípios há maior concentração do inseto.
“Se a gente for citar o nome de alguns municípios, vamos encontrar a palavra Iranduba. ‘Ira’ significa abelha. Iranduba é uma palavra de origem tupi-guarani que significa ‘lugar com muitas abelhas e mel’. Então, provavelmente, em algum momento da história alguém percebeu que aquele lugar tinha uma diversidade de abelhas”, diz Gislene Zilse.
No ambiente urbano, as pesquisas mostram que a Reserva Ducke, na zona norte de Manaus, e a floresta do campus Ufam (Universidade Federal do Amazonas), na zona leste, são fragmentos florestais que concentram espécies de abelhas.
“Geralmente, ouvimos que é importante conservar a floresta em pé. Mas tudo isso tem uma relação com a nossa rotina. A ideia do seminário é sensibilizar as pessoas de que as abelhas, por exemplo, estão muito próximas e relacionadas com o que fazemos todos os dias, que é a alimentação. O que uma abelha faz na floresta afeta as pessoas que estão na cidade. Na verdade, é uma relação direta. É reconhecer que um elemento tão pequeno da natureza é que beneficia a nossa sobrevivência”, afirma Gislene Zilse.