A pesquisa é do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Amazonas teve 16 munícipios em clima de ‘fornalha’.

Manaus foi a capital de estado no Brasil com a terceira maior aumento (2,073 °C) de temperatura em relação ao período de 1940-1970), de acordo com análise da pesquisadora Ana Paula Cunha, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que calculou a anomalia de calor na temperatura média dos municípios em 2024 em relação à média histórica.
O Brasil ferveu em 2024, mas São Paulo, Paraná e partes da Amazônia torraram ainda mais. Municípios paulistas e paranaenses chegaram a até 3,2ºC a mais do que a média da temperatura anual do período de 1940-1970, o mais distante que se consegue avançar no país sem perder a confiabilidade, explicam cientistas.
O Espírito Santo ficou em quarto, com 49, e o Mato Grosso do Sul, em quinto, com 41. Vêm na sequência Amazonas (16), Acre (12), Roraima (11), Rio de Janeiro (dez) e Pará (três).
Os dados foram publicados pelo jornal O Globo neste fim de semana. No ano passado, o mundo enfrentou o maior calor da História e superou pela primeira vez 1,5ºC de elevação em relação à média do período pré-industrial, marca considerada crítica para o equilíbrio climático.
O cálculo foi feito pela combinação de bancos de dados baseados em informação de satélites e medições. A pesquisadora usou como dados do ERA5, do serviço climático europeu Copernicus.
Pedrinhas Paulista (SP) lidera o ranking de fervura com 3,24ºC, seguido pelos vizinhos Florínea (SP,3,22ºC), Sertaneja (PR, 3,22ºC) e Cruzália (SP, 3,21ºC).
Municípios da região contígua do Norte do Paraná e do Oeste de São Paulo praticamente se alternam no ranking dos 30 com aumento de 3ºC acima da média de temperatura nos últimos 80 anos. Apenas dois não ficam lá: Caracaraí, em Roraima, em 25º lugar; e Barcelos, no Amazonas, em 30º.
‘O território brasileiro não aquece de forma homogênea. É um país continental e algumas áreas esquentam mais do que outras por uma série de fatores’; sublinha Cunha.
Nada menos do que 975 municípios tiveram aumentos de 2ºC a 2,99ºC, em sua maioria no Sudeste e Sul. São Paulo e Paraná mais uma vez lideram a fornalha, com, respectivamente, 454 e 220 municípios. Depois vem Minas Gerais, com159.
O aquecimento de 1,5ºC a 1,99ºC foi apontado em 1.318 municípios. Mas em quase todo o país houve algum grau de aquecimento.
O meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Cemaden, frisa que os números assustam. Segundo ele, o excesso de calor é resultado da combinação de fatores globais, como o aumento de temperatura devido às mudanças climáticas e ao El Niño, e locais, como significativa parte do território desmatada e ocupada por plantações, pastagens ou simplesmente terras de solo degradado.
Partes da Amazônia ficaram mais de 2ºC acima da média e isso também tem a ver com a falta de chuva. O ano passado foi extremamente seco na Amazônia, em parte devido ao El Niño, em parte ao Atlântico com temperaturas acima da média.
Se a Amazônia sofre com a seca, as consequências são sentidas nas áreas que dependem da umidade que sai dela.
Embora a análise tenha sido por município e abranja períodos em que alguns deles não existiam formalmente, isso não faz diferença.
O território brasileiro foi estudado em sua totalidade e repartido em células independentes da divisão geopolítica. Depois de pronto, foi sobreposto para o cálculo pela área ocupada por município.