
Das 27 capitais do Brasil, Manaus é a que apresenta a menor proporção de pessoas com 25 anos de idade ou mais com nível superior completo, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A proporção da capital é de 19,8% nesta faixa etária.
Além dos dados sobre o ensino superior, o IBGE divulgou que 93% da população brasileira é considerada alfabetizada. No Amazonas, esse índice é um pouco superior, alcançando 93,06%.
Já em relação ao ensino superior geral, apenas 16,75% da população brasileira possui essa formação. Na região Norte, o percentual cai para 12,67%, enquanto no Amazonas é de 12,97%.
O percentual de ensino superior pode ser lido como um dos indicadores de desigualdade regional e social no país. Conforme o IBGE, somente os estados da região Norte e Nordeste estão abaixo dos 15%.
Amazonas, Pará, Rondônia, Piauí, Bahia, Sergipe, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão aparecem com percentuais mais baixos. O pior é o Maranhão, com somente 9,8% dessa população com nível superior.
O professor doutorando em Educação e mestre em Sociedade e Cultura da Amazônia, Edilson Albarado, afirmou que o baixo número de jovens nas universidades se dá pela desigualdade histórica no Amazonas. Ele explicou que o Brasil tem políticas sociais homogêneas, sem considerar o território amazonense como diverso e complexo.
“Primeiro, que é uma questão histórica. Nós sempre fomos tratados como colônia. Além disso, as políticas públicas de educação e sociais que chegam ao Amazonas não respeitam as especificidades das pessoas que vivem na capital, Manaus, e nos 61 municípios”, ressaltou o professor.
Fatores
O educador explicou que um dos fatores excludentes é que a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) não têm sedes em todos os municípios e também não conseguem atender à demanda e à variedade de cursos de interesse dos estudantes.
“O direito ao acesso à educação de todos os jovens que concluíram o ensino médio no estado é negado. E os que conseguem ocupar os latifúndios do saber enfrentam dificuldades para chegar até a universidade, permanecer na universidade e ter uma formação de qualidade social”, destacou Albarado.
Edilson avalia que outro fator que reduz a participação do estado no ensino superior é que, em muitas comunidades, a educação de nível médio (que prepara para a universidade) não chega de forma igualitária. Pelas dificuldades logísticas, há comunidades que recebem o ensino de forma virtual, por exemplo.
“No Amazonas, o ensino médio dos estudantes das comunidades rurais é mediado por tecnologia. Apesar de o governo dizer que é um ensino de qualidade, com profissionais altamente qualificados, esses profissionais não conhecem a realidade dos estudantes que chegam às salas de aula nas centenas de comunidades rurais, indígenas e quilombolas. Quando faltarem à aula por transporte, mau tempo ou falta de energia, não terão mais a explicação do professor para aquela aula.”
Escolha de cursos
Segundo o IBGE, os cursos mais escolhidos pelos brasileiros estão na área de negócios, administração e direito, seguidos de saúde, educação, engenharias, artes e humanidades. No Amazonas, os cinco cursos mais escolhidos são: administração e direito, com 97 mil estudantes; saúde, com 64 mil; educação, com 51 mil; engenharias, com 30 mil; e artes e humanidades, com 25 mil.
A maioria dos cursos que envolvem proteção ambiental, agricultura e biodiversidade não aparece na lista dos mais escolhidos. O professor Edilson Albarado explica que o principal motivo de esses cursos não terem um bom número de alunos é que os interessados estão, em sua maioria, no interior, sem acesso à universidade.
“Precisamos entender que esses cursos na área da biodiversidade estão na capital do estado, e os mais interessados nessa área vivem nas comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, camponesas e outros, que são os principais responsáveis pela conservação e preservação da natureza nas Amazônias. Eles vivem em áreas remotas, onde o acesso ao conhecimento é precário”, disse o educador.
Outro motivo seria, novamente, a distância dos cursos ofertados na área de biodiversidade, que estão ocorrendo na capital e em municípios mais desenvolvidos. As famílias não têm condições financeiras de manter os jovens em outra localidade para estudar.
Pretos com diploma são menos de 12%
Quando se trata da proporção de pessoas pretas com 25 anos ou mais e ensino superior completo, o IBGE apontou que o número aumentou 5,8 vezes entre 2000 e 2022, passando de 2,1% para 11,7%. Entre a população parda, o crescimento foi de 5,2 vezes, de 2,4% para 12,3% no mesmo período.
Já entre os brancos, o avanço foi de 2,6 vezes, saindo de 9,9% em 2000 para 25,8% em 2022. Apesar do crescimento, as desigualdades persistem, com o percentual de pessoas brancas com nível superior ainda sendo o dobro do registrado entre pretos e pardos.
Cursos
No Brasil, nos cursos de medicina, direito, odontologia, engenharia civil e economia, o percentual de grupos minoritários formados é quase inexistente. Em medicina, por exemplo, 75,5% dos graduados são brancos; 2,8% pretos; 19,1% pardos; 2,5% amarelos; e somente 0,1% indígenas. Em todos os cursos citados, a participação indígena não supera os 0,1%.
A população de cor ou raça indígena apresentou o menor nível de instrução. Entre as pessoas de cor ou raça indígena de 25 anos ou mais, apenas 8,6% tinham nível superior completo, enquanto mais da metade (51,8%) não tinha instrução ou possuía apenas ensino fundamental incompleto.
Em 2022, o maior contingente de localidades indígenas do país encontrava-se no estado do Amazonas (2.571), totalizando 30% do total do país. Mesmo sendo o estado mais indígena do país, a participação originária na métrica de anos de estudos (informações da série e nível ou grau que a pessoa estava frequentando ou havia concluído) é a quinta menor.
Um dos fatores para esses indicadores é a falta de garantia do ensino médio e também superior aos povos indígenas. A posição foi defendida pelo Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena (Foreeia) em evento da educação em janeiro deste ano. Segundo o Fórum, na maioria das aldeias não são assegurados os anos de estudo da educação escolar, fator que aumenta a saída dos indígenas de seus territórios.