
A 2ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Manaus continua hoje com o julgamento, no Plenário do Fórum Ministro Henoch Reis, do caso da Chacina do Compaj (2002), quando houve uma rebelião no presídio que deixou onze presos e um agente penitenciário mortos, em maio de 2002.
O julgamento, presidido pelo juiz Rosberg de Souza Crozara, ouviu ontem oito testemunhas do caso – cinco da defesa e três da defesa. Hoje (27), o magistrado interrogou os réus Gelson Carnaúba – acusado de liderar a rebelião que terminou no massacre – e Marcos Paulo da Cruz e Francisco Álvaro Pereira.
No segundo dia de julgamento a sessão começou, às 9h40. Durante a fase de interrogatórios, Gelson Lima Carnaúba, Marcos Paulo da Cruz e Francisco Álvaro Pereira negaram participação na rebelião, que durou 13 horas. Todos os réus usaram da prerrogativa de responder às perguntas somente de suas respectivas defesas.
O primeiro réu a ser interrogado na sessão foi Francisco Álvaro Pereira, que falou até 10h18. Ele declarou ser inocente das acusações e negou ter feito qualquer ameaça a Elgo Jobel Fernandes Guerreiro, testemunha já falecida, cujo depoimento em áudio gravado foi reproduzido na segunda-feira em plenário.

“Sou inocente. Nunca tive problemas com ninguém dos outros pavilhões. Sempre fui respeitoso e humilde. É isso que quero dizer aos jurados”, afirmou. Em dado momento, interrompeu o interrogatório, chorando e sendo amparado pela defesa com um copo de água.
O interrogatório de Marcos Paulo da Cruz, foi realizado na sequência, por volta das 10h20 e foi até 10h36. Sobre o dia da rebelião, ele garantiu que no momento do ocorrido estava em sua cela e quando ouviu os estrondos e gritos passou começou a fazer oração junto com outros internos.
“Nesse dia fiquei com medo. Nunca vi ninguém agredindo ninguém (SIC) no presídio”, comentou, afirmando que assumiu o crime, à época, por orientação da defesa.
Gelson Carnaúba foi interrogado de 10h40 às 12h24. No início, ele começou falando que se sentia incomodado pelo fato de ser interrogado por videoconferência. No entanto, ao mesmo tempo, falou que “hoje estou tendo um julgamento justo”.
“Peço que os jurados não levem em consideração a farda que eu estou vestindo. Eu deveria estar contemplando os jurados”, disse o réu, por videoconferência. “Nunca determinei a morte de ninguém. Nem tinha benefícios na prisão”, disse em outro momento.
Após a fase de interrogatórios a sessão foi suspensa por 50 minutos, sendo reiniciada à tarde, com os debates entre acusação e defesa. A previsão é que o julgamento seja concluído ainda na noite desta terça-feira.
Ontem (26), a defesa dos réus tentou mais uma vez adiar o julgamento alegando falta de comunicação com Gelson Carnaúba, que está preso num presídio de segurança máxima no Mato Grosso e será ouvido por videoconferência.
O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE/AM) é representado pelos promotores de Justiça Igor José Augusto Palheta Taveira e Lilian Nara Pinheiro.

Testemunhas
A defesa de Carnaúba tentou vetar a utilização de reprodução do áudio da testemunha Elgo Jobel Fernandes Guerreiro, já morto. Essa intervenção atrasou o julgamento que estava previsto para começar às 9h.
Nesse depoimento, reproduzido de 11h25 até 13h, Elgo Jobel assumiu ter sido integrante de uma facção de crime organizado e, na época, era de regime semiaberto, contou que “Carnaúba era o comandante-geral do presídio e que mandava em tudo, além de usar armas e vender drogas na cadeia”. Ele também falou que tinha “medo de morrer” e que era “ameaçado por Carnaúba”. “Já vi comemorações com pessoas armadas na cadeia”, disse a testemunha, em áudio gravado.
Outra testemunha arrolada pela defesa foi o interno do Compaj Edilson Gomes da Silva, que começou a ser ouvido às 16h32. Ele reconheceu os acusados tanto por vídeo quanto no plenário. Mas disse que “nunca ouviu” falar que Gelson Carnaúba seria líder ou o “xerife” dentro da unidade prisional.
Ele garantiu ter visto pessoas com capuzes no interior do presídio no dia das mortes. O depoimento durou até 17h26. As outras duas testemunhas da defesa também eram internos de unidades prisionais.



