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Refinaria de Manaus não está refinando petróleo de Urucu e amazonenses pagam o preço

Refinaria de Manaus deixa de refinar petróleo do Amazonas pela primeira vez na história

Todo o petróleo de Urucu, em Coari, está sendo refinado em São Paulo, segundo relatório do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (INEEP). O documento expõe que a refinaria de Manaus não processa o petróleo explorado na região.

Até 2022, a antiga Reman, refinava todo o petróleo extraído em Urucu – cerca de 50 mil metros cúbicos a cada 35 a 40 dias -, garantindo uma produção média de 40 mil barris por dia na refinaria.

Em 2024, houve uma redução para 10 mil barris/dia. E, em 2025, a situação se agravou. A Ream solicitou petróleo de Urucu apenas em fevereiro e, depois disso, não fez nenhum outro pedido — o que significa que a refinaria de Manaus não processa petróleo extraído no estado.

Sem o processamento em Manaus, o petróleo de Urucu precisa ser transportado em uma viagem de 14 a 16 dias, até o terminal de São Sebastião, em São Paulo, para então ser refinado.

PRIVATIZAÇÃO

Com a privatização no final de 2022 – vendida por 70% do seu valor , segundo INEEP. Em 2023, a produção caiu para menos de 30 mil barris/dia pela primeira vez na história. Antes da privatização, o Grupo Atem já tinha 52,3% do mercado de combustíveis do Amazonas. Após adquirir a REAM, passou a controlar a refinaria, o terminal aquaviário de Manaus e parte estratégica da logística regional, concentrando ainda mais o mercado.

“Houve substituição de um monopólio estatal por uma verticalização privada sem ganhos de eficiência ou redução de preços”, aponta o relatório.

O relatório revela que, entre junho de 2024 e fevereiro de 2025, a refinaria praticamente parou de refinar petróleo. Embora a empresa alegue parada programada de manutenção, denúncias do Sindipetro-AM e da Federação Única dos Petroleiros, entidades que são contra a privatização, apontam que a unidade passou a atuar apenas como terminal logístico para importação e distribuição.

Os dados:

  • O volume processado caiu 69,3%, de 30.989 barris/dia (2022) para 9.469 barris/dia (2024).
  • A participação do petróleo importado saltou de 0% (2022) para 19,7% (2024).
  • As importações via Porto de Manaus dispararam 143,9% no mesmo período.

Enquanto isso, as receitas da Ream triplicaram e o lucro líquido cresceu 247%, impulsionados pela revenda de combustíveis importados, e não pela atividade de refino.

Preços dos combustíveis entre os mais altos do país

O relatório aponta que os consumidores foram os mais prejudicados. Desde a privatização, os preços médios de gasolina, diesel e gás de cozinha no Amazonas figuram entre os mais altos do Brasil:

  • Gasolina: preços 10% acima da média nacional em 19 dos 28 meses analisados.
  • Diesel S10: diferença superior a 3% na maior parte do período.
  • Gás de cozinha (GLP): botijão de 13 kg custa até R$ 20 a mais no Amazonas em relação à média nacional.

O INEEP afirma que, enquanto a Petrobras manteve políticas de estabilização de preços, a Ream praticou valores acima do Preço de Paridade de Importação (PPI) e da própria Petrobras, sobretudo após a paralisação do refino.

Empregos e arrecadação em queda

A privatização também trouxe impactos sociais e fiscais relevantes, de acordo com o documento. A média salarial na refinaria caiu de R$ 23,2 mil em 2022 para R$ 9,5 mil em 2024, acompanhada por um aumento da terceirização e pela redução de benefícios para os trabalhadores.

No campo fiscal, a participação do setor de refino na arrecadação de ICMS despencou de 14,7% em 2019 para apenas 4,7% em 2023. Além disso, a eventual isenção fiscal aprovada em 2025 pode representar uma perda estimada de até R$ 3,6 bilhões por ano para os cofres estadual e federal.

INEEP pede revisão profunda

Diante desse cenário, o INEEP faz uma série de recomendações:

  • Denúncia ao Cade por práticas anticoncorrenciais.
  • Fiscalização rigorosa da ANP sobre a capacidade de refino da REAM.
  • Revogação da autorização de refino, caso os índices continuem abaixo dos padrões nacionais.
  • Retirada da isenção fiscal para a atividade de refino na Zona Franca de Manaus.
  • Revisão da política de abastecimento para reduzir a dependência de derivados importados.

“Os resultados da privatização mostram que a REAM opera hoje mais como um terminal de importação do que como refinaria. Isso compromete a segurança energética e não justifica benefícios fiscais bilionários”, alerta o relatório.

Inaugurada em 1947, Refinaria nasceu como símbolo de progresso para a Amazônia

A Refinaria de Manaus, inaugurada em 1957, representou um marco para o desenvolvimento industrial e energético da Amazônia.

Idealizada ainda na década de 1950, a unidade surgiu em um momento em que o

país buscava fortalecer sua infraestrutura e reduzir a dependência de combustíveis importados.

Fundada pelo empresário Isaac Benayon Sabbá, a refinaria começou a operar oficialmente em 3 de janeiro de 1957, com a presença do então presidente Juscelino Kubitschek.

No início, tinha capacidade para 5 mil barris por dia, um avanço extraordinário para a região Norte, que até então dependia quase totalmente do transporte de combustíveis de outras partes do país.

A operação trouxe benefícios imediatos: combustíveis produzidos localmente abasteciam Manaus e o interior do estado, reduzindo custos logísticos e fortalecendo a economia regional.

O empreendimento também gerou empregos qualificados, arrecadação de impostos e ajudou a preparar o terreno para a consolidação da Zona Franca de Manaus, implantada dez anos depois.

Nos anos seguintes, a refinaria passou por expansões e, em 1974, foi incorporada ao sistema Petrobras, recebendo o nome de Reman.

Em 1996, em homenagem a seu fundador, passou a se chamar Refinaria Isaac Sabbá (UN-Reman). Já em 2000, com a entrada de uma nova unidade de destilação, sua capacidade saltou para 46 mil barris por dia, cerca de 7,3 milhões de litros de derivados/dia, um aumento de mais de 800% em relação ao início.

Além do aumento de produção, a refinaria se destacou por abrigar a primeira unidade de craqueamento catalítico de petróleo da América Latina, evidenciando o pioneirismo de Isaac Sabbá, conhecido como o “Rei da Amazônia”.

Visionário, ele acreditava que a integração da Amazônia ao desenvolvimento nacional passava por investimentos estratégicos em infraestrutura energética.

Confira na íntegra o estudo do Ineep:

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