Atrito entre governo federal e Congresso pode abalar avanço da reforma da Previdência, frisam analistas.
A tensão política de Brasília atinge o mercado financeiro e desafia expectativas de setores como a indústria. A preocupação de investidores e empresários está relacionada à possibilidade de que o avanço da reforma da Previdência seja abalado por dificuldades de articulação do governo Jair Bolsonaro no Congresso
Com o temor, o índice Ibovespa, que contempla as principais empresas listadas na bolsa, despencou 3,57% nesta quarta-feira (27), chegando aos 91.903 pontos. A queda se intensificou durante a tarde, quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, participou de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
A apreensão ainda alcançou a cotação do dólar, que subiu 2,27%, a R$ 3,954. É o maior nível de fechamento da moeda americana em quase seis meses, desde 1º de outubro (R$ 4,018).
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— Pela falta de experiência, ainda falta ao governo a postura de lidar com algumas questões de maneira mais diplomática. Mesmo assim, o mercado não deixará de acreditar na reforma da Previdência, já que existe consenso de que é necessária ao país — pontua o economista-chefe da gestora Infinity Asset, Jason Vieira.
A bolsa de valores alcançou o recorde de 100 mil pontos ao longo da sessão no último dia 18. No entanto, passou a cair em jornadas seguintes com a possibilidade de atraso na tramitação do projeto de mudanças no sistema de aposentadorias.
Sócio-diretor da Ativa Investimentos, Arnaldo Curvello afirma que o mercado financeiro “segue acreditando no avanço da reforma, mas menos do que antes”. Conforme o analista, a baixa da bolsa foi turbinada nesta quarta-feira por fatores externos, como a avaliação de que a economia mundial crescerá menos do que o esperado.
” O mercado ficou mais cético em relação à reforma nos últimos dias. Mesmo assim, não abandonou a ideia de que a proposta será aprovada” sublinha Curvello.
Confiança dos empresários diminui
As incertezas relacionadas à base de apoio do governo no Congresso também fizeram a confiança de empresários no desempenho da economia perder fôlego em março. Em escala de zero a cem, o índice que mede esse sentimento dentro da indústria do país caiu 2,6 pontos neste mês, para 61,9 pontos, apontou a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Foi a segunda redução consecutiva, depois de salto provocado, em parte, pelo resultado das eleições presidenciais. Mesmo com as baixas neste ano, o índice segue acima de sua média histórica, pondera a CNI.
” Tivemos uma reversão nas expectativas. A confiança subiu depois do período eleitoral, mas teve recuo nos últimos meses. As expectativas ainda não tiveram reflexo nos indicadores de produção, e houve acirramento político entre governo e Congresso, o que ameaça tramitação mais célere de pautas como a reforma da Previdência — frisa o gerente-executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
No Rio Grande do Sul, também houve redução na confiança da indústria em março. O índice que mede esse sentimento entre os empresários gaúchos caiu 2,8 pontos, para 64. A baixa foi a segunda consecutiva após o indicador alcançar 67,1 pontos em janeiro, maior patamar desde abril de 2010.