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Testemunha liga mortes de servidores e jornalista à apreensão de pescado a mando de ‘Colômbia’

Colômbia financia a prática de pesca ilegal há 24 anos, conforme a investigação da PF. Ele fornece barcos, motores e insumos para garantir a conservação dos peixes, segundo a polícia.

Ruben Dario da Silva Villar, o ‘Colômbia’, é suspeito de ter envolvimento na morte do servidor da Funai,  Maxciel Pereira dos Santos, ocorrido em setembro de 2019. O crime segue sem esclarecimento até hoje.

Ele também é apontado pela polícia como o mandante das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, mortos em junho deste ano.

É o que garante uma testemunha sob proteção cujos depoimentos são usados na investigação da Polícia Federal sobre um esquema de pesca ilegal no Vale do Javari.

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De acordo com a testemunha, Maxciel foi morto porque as apreensões de pescados que fazia causaram grandes prejuízos ao suposto líder do esquema – interligando Colômbia também aos assassinatos de Bruno e Dom.

Colômbia lidera e financia o esquema de pesca ilegal na terra indígena Vale do Javari e nas imediações, conforme a PF. A região fica na tríplice fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia.

Integrantes desse grupo criminoso assassinaram Bruno e Dom em junho, segundo denúncia apresentada à Justiça Federal pelo MPF (Ministério Público Federal) no Amazonas.

Colômbia está conectado aos dois crimes, conforme a testemunha levada em conta pela PF. A identidade da testemunha, que está sob proteção, não é revelada.

No caso de Bruno e Dom, a embarcação usada pelo pescador Amarildo Oliveira, o Pelado, para cometer o duplo homicídio foi comprada por Colômbia, segundo o depoimento da testemunha.

O suposto líder do grupo criminoso também foi o responsável por comprar o barco onde foram apreendidos 400 kg de pirarucu, 400 kg de carne de animal silvestre, 2 tartarugas e 35 tracajás pescados e caçados de forma ilegal na região do Vale do Javari, afirmou a testemunha.

A carga foi flagrada enquanto ocorriam as buscas pelos corpos de Bruno e Dom, em junho. Procurada, a defesa de Colômbia não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Todos esses elementos foram levados em conta pela Justiça Federal para decretar sete prisões preventivas no curso do inquérito que investiga o esquema de pesca ilegal no Vale do Javari.

A Justiça também autorizou buscas e apreensões nas casas dos investigados. A PF fez uma operação na região no sábado (6), para cumprir os mandados de prisão e de busca.

Entre os presos estão três suspeitos de participação na ocultação dos corpos de Bruno e Dom. Eles são todos parentes de Pelado. A decisão inclui Pelado e Colômbia, que já estavam presos preventivamente.

O primeiro, pelos assassinatos de Bruno e Dom. O segundo, por uso de documentos falsos. A PF ainda investiga a possibilidade de Colômbia ter atuado como mandante.

Maxciel Pereira dos Santos trabalhava em uma área de proteção no Vale do Javari. — Foto: Arquivo Pessoal

O grupo é perigoso e há diversos indícios disso, o que justificou as prisões preventivas, conforme a decisão da Justiça. Um dos indícios citados é o homicídio de Maxciel, que teria sido motivado por apreensões de peixes e consequente prejuízo a Colômbia, segundo a decisão judicial.

Outros elementos da periculosidade são o fato de os integrantes do grupo andarem armados; a pressão a pescadores que têm material apreendido em fiscalizações; e a influência de Colômbia sobre comunidades ribeirinhas onde vivem os familiares de Pelado, assim como sobre pescadores que vivem nas cidades de Atalaia do Norte (AM) e Benjamin Constant (AM).

A execução de Maxciel nunca foi solucionada. O colaborador da Funai pilotava sua moto na avenida mais movimentada de Tabatinga (AM), cidade colada a Leticia, na Colômbia, quando foi alvejado com dois tiros na nuca.

Maxciel trabalhou por 12 anos na Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari, da Funai, em ações de vigilância e fiscalização.

Menos de três anos depois, Bruno e Dom foram assassinados quando retornavam para Atalaia do Norte, cidade que fica na região da tríplice fronteira e ponto mais próximo da terra indígena Vale do Javari.

Bruno era servidor licenciado da Funai e atuava para a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Ele estruturou um serviço de vigilância indígena, que fazia dois comunicados por dia sobre presença de pescadores e caçadores ilegais na região.

Um novo inquérito foi aberto pela PF para investigar os crimes de associação criminosa armada, pesca ilegal e contrabando no Vale do Javari.

A investigação corre em paralelo com a dos homicídios de Bruno e Dom, que já resultou em denúncia pelo MPF. Pelado; seu irmão Oseney de Oliveira, o Dos Santos; e Jefferson Lima, o Pelado da Dinha, viraram réus na Justiça Federal.

Advogada de Pelado e familiares, Goreth Rubim disse que a defesa analisa todo o conjunto probatório usado para embasar as prisões preventivas.

Segundo ela, o “clamor público” de um caso de grande repercussão nacional não é motivo suficiente para uma prisão. “A fundamentação da prisão preventiva deve ser pautada em elementos concretos presentes na investigação e não com base em meras conjecturas, por simples suposições de que sujeito solto corre risco de empreender fuga”, afirmou.

A decisão judicial não demonstrou que outras medidas cautelares, que não a prisão, se mostrariam ineficazes, conforme a advogada.

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