O relatório aponta para piora em indicadores de mortalidade infantil e doenças combatidas com vacinas.
A Venezuela está sob “emergência humanitária complexa” na saúde, revelou o relatório da ONG norte-americana Human Rights Watch divulgado nesta quinta-feira (4). A declaração foi feita após observadores da organização e especialistas em saúde pública examinarem o colapso médico no país, com aumento considerável na transmissão de doenças contagiosas.
O relatório “A emergência humanitária na Venezuela: uma resposta em grande escala da ONU é necessária para enfrentar a crise de saúde e alimentos”, de 73 páginas, elaborado por especialistas e médicos da Faculdade de Saúde Bloomberg Public, da Universidade Johns Hopkins, e da Human Rights Watch, reúne uma série de detalhes sobre a situação no país.
“Por mais que eles tentem, as autoridades venezuelanas não podem esconder a realidade do país”, disse Shannon Doocy, PhD e professor associado de Saúde Internacional na Escola Bloomberg de Saúde Pública, da Universidade Johns Hopkins, que conduziu a investigação.
A ONG pede à Organização das Nações Unidas (ONU) uma “resposta contundente” ao regime de Nicolás Maduro, afirmando que o governo chavista não só se provou ineficiente para conter a crise como a piorou.
Em março, a Federação Internacional da Cruz Vermelha anunciou que aumentaria sua presença na Venezuela para cobrir as necessidades de 650.000 pessoas. Dados não oficiais indicam que aproximadamente 7 milhões de venezuelanos precisam de ajuda.
Os problemas apontados pela ONG foram: piora no número de mortalidade materna e infantil; disseminação de doenças combatidas com vacinas, como sarampo; aumento nas doenças infecciosas como malária e tuberculose; situação crítica na segurança alimentar; e desnutrição infantil.
A Human Rights Watch também alerta que a situação de calamidade na saúde pública venezuelana se agravou por conta do desabastecimento de comida sofrido no país.
O governo de Nicolás Maduro acusa os Estados Unidos e o autoproclamado presidente, Juan Guaidó, de usarem a ajuda humanitária como pretexto para um golpe no país. Países vizinhos, como o Brasil, enviaram caminhões com suprimentos (alimentos e remédios) no chamado “Dia D”, em fevereiro, quando houve diversos confrontos nas fronteiras da Venezuela com países como o próprio Brasil e a Colômbia.
Consequências para o Brasil
O texto da ONG norte-americana também aponta para o impacto do colapso na saúde venezuelanos para o Brasil, principalmente no estado mais próximo do país de Maduro, Roraima.
Dados coletados até fevereiro de 2019 mostram que 61% dos casos notificados de sarampo em Roraima ocorreram em venezuelanos.
A Human Rights Watch também ressaltou o problema da HIV. Entre janeiro e dezembro de 2018, as autoridades de saúde em Roraima registraram 56 novos casos, um aumento de três vezes em relação ao ano anterior.