Vários afluentes do rio Amazonas, um dos mais extensos e caudalosos do mundo, encontram-se em “situação crítica de escassez” hídrica devido à seca histórica que castiga o país, anunciaram autoridades nesta segunda-feira (30).
Os rios Iriri e Xingu, que abastecem a hidrelétrica de Belo Monte, estão abaixo dos níveis mínimos para esta época do ano, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), que declarou situação crítica de escassez de recursos hídricos na região.
Belo Monte gera 11% da energia do Sistema Integrado Nacional e registra “vazões naturais (…) consideravelmente inferiores às observadas em 2023” e “com valores próximos aos mínimos do histórico de dados”, segundo a agência.
“Os cenários hidrometeorológicos para este ano indicam a possibilidade de serem atingidos níveis ainda mais críticos em outubro e novembro”, alertou a ANA.
A declaração de “situação crítica” ficará vigente até 30 de novembro e permitirá que a agência modifique as normas do uso da água nas áreas vizinhas a esses rios.
Cerca de 900 km a oeste dali, o nível do rio Solimões baixou a apenas três metros no município de Manacapuru, no estado do Amazonas, um recorde histórico, segundo a Defesa Civil.
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A Floresta Amazônica, um ecossistema crucial para a regulação do clima, é um dos biomas mais castigados pela seca no Brasil. A falta de chuvas favorece a propagação de incêndios florestais na Amazônia, que vive sua pior onda de queimadas das últimas duas décadas, segundo o observatório europeu Copernicus.
No Amazonas, a estiagem histórica que atinge o Amazonas em 2024 já afeta 747.642 pessoas em todo o estado, segundo o boletim sobre a estiagem divulgado pela Defesa Civil nesta segunda-feira (30).
De acordo com o órgão, 186 mil famílias estão impactadas neste ano. Esse número é maior do que o registrado em 2023, quando cerca de 633 mil pessoas de 158 mil famílias foram afetadas.
O Amazonas enfrenta uma estiagem severa, que deixou todas as calhas dos rios do estado em situação crítica. Na capital, Manaus, o Rio Negro está a menos de um metro de atingir o nível de seca do ano passado, quando o rio, um dos principais afluentes do Rio Amazonas, alcançou 12,70 metros — o menor nível registrado em mais de 120 anos.
Na capital, a prefeitura já fechou a praia da Ponta Negra, o principal balneário da cidade. No porto, o surgimento de bancos de areia tem afastado as embarcações e alterado a rotina de quem depende do rio para viver. Até o Encontro das Águas se tornou mais difícil de observar devido a essa situação.
Leve subida
O rio Amazonas na região de Iquitos, no Peru, nesta segunda-feira (30) marcou 75 metros e 42 centímetros e segue em subida desde a última quarta-feira (25), data em que atingiu 75 metros e 28 centímetros.
Isso significa que em cinco dias as águas subiram 14 centímetros. Na sexta-feira (27) e no sábado (28) houve uma estabilização em 75 metros e 42 centímetro. Os dados são da Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia (Proa).
Mesmo com essa subida do rio ocorrida em Iquitos, não significa o inicio do fim da vazante.
A subida do rio Amazonas no Peru não afeta as cotas do rio Negro em Manaus que, segundo o CPRM-SGB, tem registrado descidas menores.
A tendência para os próximos dias apontam que as descidas das águas devem diminuir.“A intensidade das descidas na região de Manaus tende a diminuir nas próximas semanas, uma vez que no alto Rio Negro as descidas estão na ordem de 5 cm diários em Barcelos e foram registradas subidas na região mais ao norte e que as variações diárias da recessão no médio Solimões também tem diminuído”, pontuou a pesquisadora.
Veja a situação das principais cidades do estado:
- Em Tabatinga, na região do Alto Solimões, o Rio Solimões está em -2,19 metros. O registro é de sábado (28). Dados da Defesa Civil apontam que o rio tem descido, em média, 5 centímetros por dia, no último mês. A cidade vive sua pior seca da história.
- Na cidade de Coari, na região do Médio Amazonas, o rio mede 1,54 metros. O registro é do dia 17 de setembro, última atualização da Defesa Civil do local.
- Em Parintins, no Baixo Amazonas, o Rio Amazonas está em -1,95 metro. O cenário também é crítico na região, segundo o estado.
- Em Itacoatiara, o mesmo Rio Amazonas está medindo 1,97 metros. A cidade recebeu um porto flutuante, onde os navios cargueiros, que atendem as empresas do Polo Industrial de Manaus, transferem suas mercadorias para balsas que ainda conseguem chegar na capital amazonense.
- Por fim, em Humaitá, o Rio Madeira segue em 8,08 metros. O rio desceu uma média de -4 centímetros por dia.
Série histórica
É grande probabilidade da seca deste ano ultrapassar a maior já registrada na história do Amazonas, desde o início da medição em 1902: 12 metros e 70 centímetros em 2023.“Como grande parte da bacia está afetada, no momento para a região do rio Negro em Manaus, há uma grande probabilidade de superar a mínima histórica (12,70 m) de 2023.
Da mesma forma, o rio Amazonas em Itacoatiara, também manifesta grande possibilidade dos níveis ficarem mais baixos que em 2023”, ponderou Cury.
A condição de seca afeta os principais rios da região amazônica.“Com níveis muito baixos para o período e em algumas estações mais a jusante (tudo o que está abaixo de um dado ponto de referência), em que o momento atual já representa o nível mais baixo da série histórica, a saber: rio Madeira, estação de Humaitá com 800 cm, rio Solimões, estação de Manacapuru com 300 cm, rio Purus, estação de Beruri com 354 cm”, disse a pesquisadora.