
No Abril Verde, mês dedicado à conscientização sobre saúde e segurança no trabalho, levantamento da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP), detalha a dimensão dos acidentes ocupacionais que afetam trabalhadores em todo o estado.
O mês tem como marco o dia 28 de abril, data instituída pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho, em memória das vítimas de acidentes laborais em todo o mundo.
De abril de 2024 a março de 2025, foram registrados 2.829 acidentes de trabalho em território amazonense, com destaque para o setor agrícola e para o aumento dos acidentes envolvendo motociclistas.
Os dados, fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e analisados pelo Centro de Referência Estadual em Saúde do Trabalhador do Amazonas (Cerest-AM), mostram que as cinco profissões com mais acidentes no Amazonas, nos últimos 12 meses, foram:
- Produtor agrícola polivalente (188 registros)
- Pedreiro (182)
- Motociclista (180)
- Trabalhador volante da agricultura (153)
- Técnico de enfermagem (103)
Somados, apenas trabalhadores da agricultura totalizam 341 ocorrências, evidenciando a vulnerabilidade do setor rural. Para a coordenadora do Cerest-AM, Cinthia Santos, o quadro evidencia a necessidade de ações integradas de prevenção:
“Quando somamos produtor agrícola polivalente e trabalhador volante da agricultura, fica claro que a ocupação rural é a mais exposta a riscos no Amazonas. A informalidade e a carência de equipamentos de proteção individual agravam esse cenário”, destaca.
Setor privado lidera registros e informalidade preocupa
O levantamento aponta que a maioria das notificações envolve empregados registrados (927 casos), seguidos por autônomos (813) e empregados não registrados (463).
Já entre servidores públicos, os números são bem menores: 121 estatutários e 113 seletistas.
“O trabalhador privado e o autônomo estão mais sujeitos a acidentes, em especial por conta da falta de vínculo formal e de fiscalização”, explica Cinthia.
Segundo ela, a ficha de notificação de acidente de trabalho contempla diferentes vínculos, desde o empregado com carteira assinada, passando por autônomos, cooperados e servidores públicos, até empregadores e trabalhadores informais. Essa diversidade mostra a necessidade de estratégias diferenciadas de prevenção e acompanhamento.
Quedas, cortes e acidentes de trânsito estão entre os mais frequentes
Entre os acidentes de trabalho mais frequentes no Amazonas, destacam-se as ocorrências relacionadas a condições inseguras no ambiente laboral, com 336 notificações identificadas pelo CID Y96, código utilizado para indicar que a lesão ou doença está diretamente associada ao exercício da atividade profissional, previsto na Classificação Internacional de Doenças.
Outros tipos comuns incluem acidentes com objetos cortantes ou perfurantes (306 casos), colisões e outros acidentes de trânsito envolvendo motociclistas (209 e 153 registros, respectivamente), além de impactos provocados por objetos em queda (138 notificações).
Acidentes com motociclistas, segundo a coordenadora do Cerest-AM, refletem o crescimento do serviço de entregas na capital e nos municípios, além das dificuldades de fiscalização e capacitação.
“Os entregadores estão entre os grupos que mais se acidentam, seja no transporte de pessoas ou mercadorias. Muitas vezes, trabalham sob pressão e sem acesso a treinamentos adequados”, alerta.
Fluxo de atendimento: acolhimento e reabilitação
Após a notificação do acidente, as vítimas recebem atendimento inicial nos serviços de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS).
O acompanhamento posterior depende da gravidade do caso, podendo envolver unidades básicas de saúde, centros de fisioterapia e acompanhamento psicológico.
“O fluxo do atendimento é o mesmo para qualquer paciente do SUS. Após o atendimento emergencial e a estabilização do quadro, o trabalhador é encaminhado para a reabilitação ou outros procedimentos necessários, conforme cada caso”, explica Cinthia.
Ela ressalta, entretanto, que a notificação correta do acidente é essencial para que os sistemas de saúde e de vigilância possam identificar padrões e aprimorar políticas públicas.
Em situações em que o trabalhador possui vínculo com a Previdência Social, é possível solicitar reabilitação profissional e auxílio para reinserção no mercado.
No caso dos autônomos e informais, essa transição depende de iniciativas intersetoriais e da articulação com políticas públicas de inclusão e assistência social.
Desafios persistem na prevenção
Cinthia Santos aponta a subnotificação e a falta de informação como obstáculos para a prevenção de acidentes.
“O registro não é apenas um número. Ele revela a realidade dos trabalhadores e permite que o SUS e outros órgãos planejem ações específicas para as ocupações e setores mais atingidos”, defende.
A especialista também chama atenção para a necessidade de integração entre diferentes esferas governamentais e setores produtivos.
“Sem o envolvimento do empregador, do poder público e do próprio trabalhador, é difícil avançar na redução desses índices. Investir em capacitação, fiscalização e equipamentos de proteção é fundamental.”