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Máfia do peixe: “Pelado” devia 80 mil reais ao “Colômbia” dizem pescadores

Cidade peruana Islândia, na fronteira com Benjamin Constant, no Amazonas, onde o Rubens Villar, o “Colômbia” tem casa e negócios

Mantidos sob sigilo por receio de serem mortos, indígenas e não indígenas afirmam que Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, assassino confesso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips – estaria devendo ao menos 80 mil reais para o atravessador de pescado e caça peruano Rubens Villar Coelho, o “Colômbia”.

O valor seria o resultado de “prejuízos” que “Pelado” e outros pescadores e caçadores tiveram com carregamentos de peixes e animais silvestres apreendidos por causa do monitoramento da Equipe de Vigilância da Univaja (EVU), assessorada pelo indigenista Bruno Pereira na Terra Indígena Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas. 

A dívida de R$ 80 mil pode ter sido o estopim para que Pelado, já acusado pela Polícia Federal (PF) como participante da morte do indigenista e do jornalista, planejasse a morte da dupla.

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Uma das fontes ouvidas pela reportagem confirmou que “Pelado” andava revoltado pelas ações de monitoramento coordenadas por Bruno Pereira. “Eles tinham dívidas de equipamentos. Eles mesmo falaram isso uma vez na comunidade”, disse.

Bruno e Dom foram mortos no dia 5 de junho de forma brutal: a tiros, queimados e esquartejados, conforme a confissão de “Pelado”. Antes, conforme publicou a agência, o indigenista, o jornalista e indígenas da equipe da EVU foram ameaçados pelo pescador e mais dois homens na entrada da terra indígena.

No fim da tarde do dia 9 deste mês, quando a operação de buscas das Polícia Federal, Forças Armadas e demais órgãos estavam no Vale do Javari, uma embarcação lotada de pirarucus, distribuídos em seis caixas de isopor com gelo, foi apreendida pelos indígenas da EVU. O barco pertencia a “Pelado” e estava escondido por folhagens quando foi descoberto pelos indígenas.

No dia 23 de março deste ano, uma embarcação de motor 150 HP foi vista por indígenas da Equipe de Vigilância da Univaja (EVU) saindo da TI Vale do Javari. Segundo relatório da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, principal organização do território) do dia 12 de abril, o barco pertencia a uma pessoa chamada “Jane”. Seu outro companheiro foi identificado como “Beré”. 

Barco carregado de pirarucu apreendido pela EVU no dia 9 de junho e que seria de “Pelado”
(Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real)

“Os pescadores e o Colômbia já estavam com raiva porque o barco 150 (HP) tinha sido apreendido. O que soubemos é que eles se juntaram na base da pistolagem para roubar a balieira de volta. Tempos depois, mandaram um 60 (motor) para as comunidades ribeirinhas. Esse motor mais rápido não é usado por pequenos pescadores. Esse mesmo barco de motor 60 foi usado pelos pescadores para matar o Bruno”, diz um indígena do Javari.

No barco, foram apreendidos 25 tracajás, 2 tartarugas, 300 quilos de carne de queixada salgada e 400 quilos de pirarucu. Cinco dias antes, em outro avistamento da EVU, “oito integrantes armados” estavam em atividade dentro da TI com mais de 900 quilos de sal. Segundo a Univaja, em ofício, todos os detalhes dessas operações foram encaminhados para autoridades públicas, como Polícia Federal e Ministério Público Federal.

“O barco e o motor foram levados por policiais civis para a balsa da prefeitura do município de Atalaia do Norte e “desapareceu”. A suspeita é que, na realidade, o barco foi recuperado pelos pescadores, a partir da intervenção de pessoas ligadas a “Colômbia”, de acordo com outra fonte da reportagem.

“Esse tanto de sal que foi apreendido era para conservar a carne. Carne de queixada, mutum, veado, pirarucu. Tudo eles salgam e depois enviam para a mão de quem financia eles”, reafirmou.

Território

O território, na fronteira com Peru, foi homologado em 2001 e as atividades de caça, pesca e exploração de madeira por não indígenas são proibidas e constituem em crimes ambientais. Na TI Vale do Javari, vivem sete povos contatados e de recente contato e isolados.

Muitos ribeirinhos habitavam a TI e, com a homologação foram obrigados a sair, permanecendo nas vizinhanças, mas sempre mantendo uma relação tensa e de pouca amizade com os indígenas.

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